Jornada de Lutas | Conheça a história da atingida do Paraopeba, Michelle Rocha: “Nossa vida nunca mais foi a mesma”

Mãe de três filhos, Michelle viu sua vida mudar completamente em 25 de janeiro de 2019, após o crime da Vale em Brumadinho

Michelle Rocha, atingida pelo crime da Vale na Bacia do Paraopeba (BG). Foto: Marcelo Aguilar


“A maior dificuldade é explicar para os meus filhos que eles não podem comer a acerola do quintal, a banana, a manga, porque está tudo contaminado”, relata Michelle Rocha, 37 anos, que vive a cerca de 100 metros do Rio Paraopeba, no município de Betim (MG). Depois do dia 25 de janeiro de 2019, quando barragem do Córrego do Feijão se rompeu em Brumadinho (MG), a vida da atingida nunca mais foi a mesma. 

“A gente vai tentando se adaptar, mas a vida social não é a mesma coisa. Sem falar no aparecimento de várias doenças que, normalmente, eles não associam ao crime, mas têm tudo a ver”.

Michelle conta como foi importante a luta dos moradores organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB para garantir o direito às Assessorias Técnicas Independentes -ATIs, que têm realizado um trabalho fundamental de escuta, diagnóstico e execução de projetos para a reparação dos atingidos pelo crime da Vale na região. 

“A gente lutou demais. Não foi nada de graça não. E foi a partir das assessorias técnicas que nós, os atingidos, começamos a entender a dimensão do crime, do que foi contaminado e do que a gente precisava fazer, os caminhos que tínhamos que percorrer para garantir nossos direitos. E olha que ainda tem muito pra ser feito”, avalia.

Se, por um lado, a luta dos atingidos foi responsável pela conquista das ATIs, Michelle lembra que uma lei aprovada pelo Congresso Nacional daria segurança jurídica a eles, sem a necessidade de judicialização dos processos. Por isso, ela defende a aprovação da Política Nacional de Direitos dos Atingidos por Barragens – PNAB, uma das principais reivindicações dos atingidos que se reúnem em Brasília até o dia 7, na Jornada Nacional de Lutas do Movimento. 

Michelle mostra os sinais da lama na parede deixados por uma enchente em Betim (MG), um dos municípios atingidos pelo rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). Foto: Joka Madruga

Michelle cita como exemplo de demanda dos atingidos um atendimento especializado no Sistema Único de Saúde – SUS para fazer o acompanhamento adequado dos moradores com enfermidades que se agravaram a partir do rompimento da barragem e da contaminação do Rio Paraopeba. 

“Uma das coisas que a PNAB vai nos garantir é um protocolo de atendimento dos atingidos no SUS para essas pessoas que foram expostas à contaminação. Elas precisam de uma atenção especializada, para impedir que as consequências do crime continuem precarizando a vida dos moradores”. 

Foi movimento popular que Michelle acabou encontrando o incentivo para seguir na luta e não desistir diante da catástrofe e da impunidade que impera sobre as empresas mineradoras que mataram centenas de pessoas e deixaram um rastro de destruição pelo estado de Minas Gerais. 

“Eu acho muito bonita essa reunião do povo atingido: cada um com sua história, com sua experiência. Apesar de todo o mal que esse povo sofreu, segue sendo um povo bonito, alegre, que levanta nosso ânimo e nos dá força para seguir”, finaliza. 

Michelle é umas das 2.500 pessoas atingidas que participa da Jornada Nacional de Lutas dos Atingidos por Barragens, que acontece desde o dia 4 e vai até amanhã, 7 , em Brasília. 

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