Vale interrompe fornecimento de água para ribeirinhos no Paraopeba

Moradores do bairro Fhemig, em São Joaquim de Bicas, denunciam a interrupção do abastecimento de água como medida paliativa para minimizar o problema da contaminação das águas criado pela mineradora

Após um ano e meio do rompimento da barragem B1, do complexo Mina do Córrego do Feijão, que pertence a Vale, que despejou cerca de 12 milhões de toneladas de rejeito de minério de ferro no rio Paraopeba, famílias que dependiam do abastecimento da água do rio temem novas ações da mineradora.

Desde o rompimento, por determinação da força-tarefa das instituições de Justiça, a mineradora Vale seria obrigada a fornecer água potável e água mineral a ribeirinhos que tinham poços artesianos. No entanto, a Vale tem interrompido o abastecimento, deixando de entregar água a moradores do bairro Fhemig, em São Joaquim de Bicas.

Segundo moradores, funcionários de empresas contratadas pela Vale estão instalando filtros nos poços artesianos sem a autorização dos moradores. “Estamos muito preocupados com a instalação dos filtros, ainda não se tem uma análise confiável para dizer o que tem nessa água. Nos causa muita revolta saber que esta empresa contaminou nosso rio e ainda nos força a consumir essa água”, conta integrante da Comissão de Atingidos e Atingidas do bairro Fhemig.

Construção envolta de poços artesianos, onde são instalados filtros.

Na região, os ribeirinhos ainda relatam o adoecimento da população devido à contaminação do rio. “Depois do rompimento, muitos moradores do bairro tiveram doenças de pele, alergias e problemas respiratórios. Nas margens do rio estão cheias de minério, vemos até brilhar. Sem contar o adoecimento metal de não poder passar a tarde no rio, brincar, pescar. A Vale causou somente devastação em nossas vidas”, desabafa integrante, que prefere não se identificar, devido à perseguição da Vale.

Os atingidos exigem que não seja interrompido o fornecimento de água enquanto não tiver análises confiáveis. E que as medidas de reparação do dano causado sejam efetivadas por meio da assessoria técnica, com a participação dos atingidos.

Em meio a placas de não utilização do rio, filtros são instalados em poços cerca de 30 metros do Paraopeba

O integrante da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Jefferson Macena, aponta que essa medida da Vale no território busca livrar a mineradora da responsabilidade sobre os problemas causados na vida da população na bacia do rio Paraopeba. “Já estamos há um ano e meio do maior crime socioambiental da história no país, e os transtornos na vida dos atingidos continuam. Os poços artesianos ainda não estão seguros para serem utilizados, uma vez que não temos estudos confiáveis e independentes dos que a mineradora faz”, afirma Macena.

Ainda de acordo com o militante do MAB, a prática da mineradora tem sindo negar o dano ambiental e adotar apenas medidas paliativas, sem apresentar a resolução dos problemas. “Estamos vendo a mesma postura da mineradora criminosa no Paraopeba. Na bacia do rio Doce, os atingidos estão há quase cinco anos sem a reparação integral dos danos, com água contaminada. Percebemos a mesma atuação no crime no Paraopeba. Por outro lado, o investimento em propaganda é intenso. Quem olha o site da mineradora terá a falsa percepção que estão deixando a vida do povo melhor do que estava”, conclui.

Atingidos não recebem auxílio emergencial

Os atingidos denunciam que o pagamento do auxílio emergencial não tem ocorrido. A determinação judicial do final de novembro de 2019 deliberou o pagamento integral para os atingidos que utilizam insumos para a criação de animais, na agricultura, além do fornecimento de água.

Pandemia da Covid-19

De acordo com a população, os trabalhadores da Vale continuam circulando na comunidade, visitando casas e conversando com os atingidos, sem respeitar as orientações de distanciamento social e sem utilizar equipamentos de prevenção da proliferação da Covid 19. Os moradores organizados exigem que os trabalhadores da Vale passem a usar esses dispositivos de prevenção.

“Em todas as comunidades a Vale continua atuando de forma invasiva. A mineradora mantém seus trabalhadores nas comunidades expondo a população ao risco de contaminação por esse vírus que o mundo inteiro está temendo. Mais um desrespeito com os atingidos por barragens”, pontua Jefferson Macena.

Para o MAB a decisão da Vale de suspender o fornecimento de água à população atingida em meio a pandemia só piora a vida dos atingidos.

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