Atingidos por Belo Monte estão no Ibama desde segunda-feira

Nessa sexta-feira (13), a ocupação do escritório do Ibama em Altamira (PA) pelas famílias da “lagoa” do Independente 1 já chega ao quinto dia. Elas foram reconhecidas como atingidas pela […]

Nessa sexta-feira (13), a ocupação do escritório do Ibama em Altamira (PA) pelas famílias da “lagoa” do Independente 1 já chega ao quinto dia. Elas foram reconhecidas como atingidas pela hidrelétrica de Belo Monte há quatro meses e cobram que o órgão exija da Norte Energia o início imediato dos trabalhos de realocação.

Algumas pessoas estão dormindo em redes ou barracas. Outras trouxeram colchões e até camas para o local.

A cada dia que passa, mais famílias trazem seus pertences para o escritório do Ibama, como geladeiras, fogões camas e cadeiras. “Só vamos sair daqui quando a Norte Energia entrar na comunidade e começar a tirar as pessoas”, afirma Elizete, da coordenação do MAB na lagoa. 

Desde segunda-feira, todos os dias chegam pessoas “de mudança” para o Ibama.

A maioria dessas famílias já estava vivendo de favor na área da lagoa, pois suas casas estão desabando.

Também na noite de ontem (12), o chefe do escritório local do Ibama, Roberto Abreu, foi à uma emissora local de TV e afirmou que mudança das famílias vai começar “o mais rápido possível”, porém não apresentou datas.

As mulheres da comunidade organizaram uma cozinha coletiva na ocupação. Todos os dias saem grupos para arrecadar alimentos nos comércios da cidade.

Entenda

Os moradores estão lutando há 3 anos com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) pelo reconhecimento como atingidos pela hidrelétrica de Belo Monte. Eles  foram reconhecidos como atingidos pelo Ibama em março, mas até o momento ainda estão vivendo em área permanentemente alagada e poluída.

Vista da lagoa do Independente 1, uma área de risco onde vivem os atingidos.

Em parecer técnico, o Ibama reconhece que as famílias foram levadas a ocupar a área da lagoa e construir casas de palafita devido ao aumento no custo dos aluguéis em Altamira com a construção da hidrelétrica de Belo Monte. A ocupação irregular da área transformou a lagoa em um grande esgoto a céu aberto. 

O Ibama e a Norte Energia não reconhecem o impacto do reservatório da hidrelétrica no local, que está acima da cota 100, mas os moradores alegam que, após a formação do lago da barragem, o nível do lençol freático subiu e a lagoa não seca mais.

O local não conta com água potável, coleta de lixo nem rede de esgoto. São frequentes os casos de doenças, sobretudo de crianças e idosos.

O cadastro socioeconômico inicial da Norte Energia apontou 968 famílias no local, no entanto, relatório mais recente da concessionária afirma que são cerca de 578 famílias a serem removidas, a maioria vivendo em casas de palafita, mas também algumas morando sobre área aterrada ao redor da “lagoa”. 

Para o MAB, trata-se de uma conquista muito importante, pois implica em reconhecer os atingidos para além do critério apenas do “alagado”, considerando o impacto socioeconômico de Belo Monte.

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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