Mulheres Atingidas em Defesa da Vida

Cartinha

Florianópolis, Santa Catarina, 17 de julho de 2021
Às atingidas pelo rompimento da barragem da CASAN na Lagoa da Conceição. Mesmo que uma tragédia seja anunciada, como são os rompimentos de barragens no Brasil, nunca estamos preparadas para as proporções que ela toma em nossas vidas. A dor, o sofrimento, a incerteza, a memória, o trauma e o luto, se apresentam como o encontro das diversas histórias que ali existem e que, se cruzam.

Enquanto pensamos neste bordado, nossas memórias como mulheres atingidas por barragens tomaram conta de nós como as lembranças que nos apresentaram à luta.
Esta Arpillera foi construída, retalho a retalho, linha por linha, por três mulheres, atingidas desde as barrancas dos rios até a energia que corre nas linhas de transmissão e chega cara para as trabalhadoras nas cidades.

Da construção de Itaipu na história da nossa família, ou pela ameaça de uma grande hidrelétrica no oeste do estado. Da intenção sobre o desmantelamento do modo de vida de uma região que respira agroecologia, até à falta de acesso à energia das periferias da nossa capital.

É aí que as nossas histórias se cruzam, e se somam à luta das atingidas da Lagoa da Conceição. Na Lagoa, como vocês bem sabem, as mulheres assumiram um protagonismo no processo de luta pela garantia dos direitos e da reparação justa para todas e todos, atingidas aguerridas também na defesa da Lagoa da Conceição, coração da cidade que mora no peito de vocês, mora também no nosso peito. Um peito sofrido, é verdade, porque a dominação e a exploração da natureza avançam a passos largos, o lucro está acima da vida.

As mulheres são as que, em seu cotidiano, enfrentam com mais firmeza essa lógica, se pautam na solidariedade, no apoio, nos laços comunitários. São alicerce das lutas em todos os lugares, embora em muitos deles ainda hoje seja um desafio que participem, falem e decidam sobre seus próprios futuros. As correntes e mordaças do patriarcado são mais apertadas para algumas de nós, mas seguiremos em luta até que todas sejamos livres.

É impossível falar da voz das mulheres, de força e de coragem, sem que os olhos fiquem marejados e venha a lembrança da Vera, que lutou a vida inteira e marcou nossos corações com sua generosidade e firmeza. Vera, presente!

As violações de direitos tornam mais difícil e doloroso bordar o tecido da vida, mas sempre seguiremos lutando, não importa quanto atrito exista para chegar ao avesso, a força coletiva nos permite atravessar e fazer um novo ponto, bordando, dando cor e forma para a transformação da sociedade, para que nossos direitos sejam garantidos e que o espaço das mulheres seja reconhecido em cada recanto deste mundo.

Nestes 30 anos de lutas e conquistas do MAB a nível nacional, e mais de 40 anos em Santa Catarina as mulheres atingidas foram e são fundamentais, atuando desde as águas da Lagoa, do Rio Uruguai e seus afluentes e tantos outros rios e riachos que banham terras do nosso estado, do Brasil, da América Latina, por isso, seguimos lutando em defesa da vida, em todas as suas formas e dimensões.

Mulheres atingidas, a nossa luta é pela vida!
Com carinho,
Mariah, Laura e Raquel