Ouro na morada dos deuses
Documento
Metadados
Título da Arpillera
Ouro na morada dos deuses
Descrição
A ideia da arpillera surgiu da reflexão em torno de um embate entre dois olhares, duas formas de percebermos e nos relacionarmos com o mundo. Uma é entender o lugar em que estamos inseridos de uma forma utilitarista, instrumental: O rio é recurso hídrico. A outra, em que pese o uso cotidiano dos elementos oferecidos pelos rios e matas, nos situa no âmbito da relação: “O rio sempre foi a vida aqui”. Conforme a fala dos beradeiros do Xingu, esse rio é nosso pai e nossa mãe. Então, a vida do homem se entrelaça a do rio, uma sacralidade envolve o ambiente no qual se vive, o rio é a minha casa, meu parente próximo, um pouco pai, um pouco mãe, tal o caráter relacional. A juta que forma a moldura da arpillera foi tingida com fragmentos de uma rocha da área da mineração da Vila Ressaca, comunidade situada a dez quilômetros do barramento de Belo Monte. Trata-se de uma região riquíssima em ouro, e ali, os canadenses estão se instalando. Em meio a beleza e a biodiversidade singular da Volta Grande, em meio a tanto capricho com que a morada dos deuses foi tecida pelo tempo e pela natureza, nós nos perguntamos, afinal quanto vale o rio, as águas, as matas? Quanto vale a vida?
Data
julho 1, 2016
Autoras
Mulheres atingidas do Pará
Cartinha
"“O rio sempre foi a vida aqui, nós fazemos tudo dentro dele, vamos sentir saudade dele com certeza” (morador da comunidade Ilha da Fazenda, localizada às margens do rio, na Volta Grande do Xingu).
A ideia da arpillera surgiu da reflexão em torno de um embate entre dois olhares, duas formas de percebermos e nos relacionarmos com o mundo. Uma é entender o lugar em que estamos inseridos de uma forma utilitarista, instrumental: O rio é recurso hídrico.
A outra, em que pese o uso cotidiano dos elementos oferecidos pelos rios e matas, nos situa no âmbito da relação: “O rio sempre foi a vida aqui”. Conforme a fala dos beradeiros do Xingu, esse rio é nosso pai e nossa mãe. Então, a vida do homem se entrelaça a do rio, uma sacralidade envolve o ambiente no qual se vive, o rio é a minha casa, meu parente próximo, um pouco pai, um pouco mãe, tal o caráter relacional.
O Xingu, com quase dois mil quilômetros de extensão, abriga em suas águas singularidades difíceis de descrever. Na Volta Grande a vida é pulsante, intensa: em certo período do ano “as pedras florescem”, são cobertas por uma delicada e colorida vegetação. Ali, inclusive, pouco tempo atrás, foram descobertas espécies ainda não catalogadas cientificamente. Por entre os pedrais vivem peixes que por sua beleza, geram renda como ornamentais, dentre eles o pequeno acari zebra, um peixe em risco de extinção, endêmico daquele trecho do rio. E, exatamente naquele trecho, as águas foram barradas, para que a UHE de Belo Monte possa gerar energia, cem quilômetros de Volta Grande do Xingu tiveram sua vazão reduzida. A hidrelétrica atingiu milhares de pessoas, dentre eles, povos tradicionais, ribeirinhos, terras indígenas, reservas extrativistas; e os impactos prosseguem, na vida de plantas, peixes, bichos, gente, o rio não corre mais livre! E é exatamente na Volta Grande que a empresa Canadense Belo Sun desenvolve pesquisas e aguarda autorização para explorar toneladas de ouro, no trecho de vazão reduzido pela hidrelétrica.
A peça mostra Volta Grande do Xingu e o barramento principal da hidrelétrica; a parte azul é o reservatório de Belo Monte, o azul estampado é o trecho do rio que teve suas águas reduzidas. As terras indígenas Paquiçamba e Arara da Volta Grande estão presentes na Arpillera. Na área em que hoje se encontra o canal de derivação (por onde são desviadas as águas do Xingu) e o reservatório intermediário, se vê a árvore e o peixe acari zebra morto simbolizando toda a fauna aviltada pela barragem: No reservatório principal da UHE, o ambiente de pedrais, habitat do zebra, já desapareceu. A árvore se por um lado lembra as milhares que já foram tombadas acima de tudo evoca a resistência mediante a barbárie, assim como a cobra que simboliza o imaginário do próprio rio. A canoa retrará a própria transposição dos barcos que são retirados do rio, puxados por um trator e recolocados no Xingu do outro lado do barramento. As fotos que acompanham esse texto são parte da narrativa de todo processo que resultou na arpillera.
A juta que forma a moldura da arpillera foi tingida com fragmentos de uma rocha da área da mineração da Vila Ressaca, comunidade situada a dez quilômetros do barramento de Belo Monte, trata-se de uma região riquíssima em ouro, e ali, os canadenses estão se instalando. Em meio a beleza e a biodiversidade singular da Volta Grande, em meio a tanto capricho com que a morada dos deuses foi tecida pelo tempo e pela natureza, nós nos perguntamos, afinal quanto vale o rio, as aguas, as matas ? Quanto vale a vida?"
Fotógrafo/a
Marcelo Aguilar
Localização
Secretaria Nacional do MAB (Endereço: Avenida Thomas Edison, 301, Barra Funda, São Paulo/SP | Fone: 11 3392 2660)
Dimensões
48,5 x 50,5cm
Bloco
Bordando os Direitos
Anexos
Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital
Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro
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Cumprir nossa missão histórica
Em nota, Movimento dos Atingidos por Barragens reafirma importância das eleições de 2022 para povo brasileiro
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