Dois terços dos grandes rios do mundo estão barrados: por que isso importa?

Em todo o mundo apenas 37% dos rios com mais de 1.000 quilômetros continuam fluindo livremente: barragens colocam em risco ecossistemas inteiros e serviços econômicos e ambientais relacionados às bacias hidrográficas

 

Ilustração da hidrelétrica de Kariba  entre a Zâmbia e o Zimbabue. Crédito: Haam Juhae.

Por todo o mundo, desde sempre, os rios desempenham um papel fundamental na manutenção da vida e de ecossistemas diversos e complexos, além de ser fundamental para o sustento econômico de bilhões de pessoas. Em estudo recente intitulado “Mapping the world’s free-flowing rivers” (“Mapeando os rios de fluxo livre do mundo”, em português), 34 cientistas e estudiosos apontam que apenas 37% dos rios com mais de 1.000 quilômetros continuam fluindo livremente em toda a sua extensão. 

As barragens e a formação de reservatórios de água são os principais contribuintes para a perda de conectividade dos rios. Mais de 3.700 hidrelétricas (>1 MW) são planejadas ou já foram construídas em todo o mundo. A situação é ainda mais frequente em áreas densamente povoadas. 

Os barramentos interrompem a conectividade fluvial e a troca de água, energia, materiais e espécies dentro dos rios e entre eles e as paisagens circundantes obstruídas. As consequências desse processo incluem o aumento de inundações em áreas ribeirinhas ou em planícies, alterações hidrológicas do volume dos rios devido a captações ou regulação de água e alterações na qualidade da água causados ​​pela poluição ou alteração na temperatura da água.

Mapa

Mapa do artigo da Nature com indicadores de pressão sobre os rios que incluem o DOF (grau de fragmentação), DOR (grau de regulação), SED (aprisionamento de sedimentos), USE (uso consuntivo de água) e URB (áreas urbanas). O RDD (densidade rodoviária) não ocorre como indicador de pressão dominante no mapa. A inserção mostra o número e a proporção de trechos de rios por indicador de pressão dominante em escala global.

O uso doméstico da água, na agricultura, a navegação, o transporte fluvial, a pesca e a geração de energia elétrica hidráulica podem ser altamente prejudicadas por conta dessas consequências nos próximos anos, assim como a segurança energética, alimentar e infraestrutura de países inteiros e de suas populações.  

As mudanças climáticas e de uso da terra aumentam ainda mais a pressão sobre os rios e a água. Por isso, sua preservação é fundamental para a resiliência ambiental das cidades quanto ao aumento da temperatura e portanto precisa ser incorporada no planejamento de infraestrutura e na tomada de decisões dos governos nos próximos anos. 

History of Global Reservoir and Dam Construction from Global HydroLAB on Vimeo.

Fonte: *Estudo publicado na Revista Nature

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