Audiência Pública em Congonhas (MG) escancara o desrespeito da mineração com a vida das comunidades
Comunidade do Pires denuncia riscos da nova mina da Ferro+, em audiência pública marcada por tensões e ausência de autoridades. Expansão ameaça saúde, meio ambiente e patrimônio reconhecido pela UNESCO
Publicado 06/08/2025 - Actualizado 08/08/2025

Na última quinta-feira, 31 de julho, às 19h, a Escola Municipal Oscar Weinschenk, em Congonhas (MG), foi palco de uma audiência pública marcada por tensões, manifestações populares e demonstrações explícitas de desrespeito por parte dos defensores da mineração. O encontro teve como pauta a proposta de expansão da empresa Ferro+, que pretende operar em uma área a menos de 120 metros das residências da comunidade do Pires, utilizando títulos minerários da Vale.
A empresa, considerada uma “mini mina”, quer avançar sobre a Serra do Pires — um território localização em Congonhas (MG), de rica biodiversidade, repleto de nascentes e historicamente utilizado pela população para contemplação, orações e momentos de lazer. A região é cercada por um bairro popular onde vivem mais de 3 mil pessoas, que já sofrem com os impactos constantes da mineração. Com o novo projeto, a Ferro+ também prevê a disposição de estéril e rejeitos, o que deve agravar ainda mais a qualidade do ar na comunidade, localizada às margens da BR-040 e com mais de 200 anos de história.
Durante a audiência, moradores expressaram profunda preocupação com os impactos na saúde, na água, no ar e na qualidade de vida de toda a população atingida. Denunciaram ainda o risco iminente de destruição da Serra do Pires e o descaso com o patrimônio coletivo.
Além das questões ambientais e sociais, a expansão da mineração coloca em risco o conjunto paisagístico de um dos mais importantes patrimônios culturais do país: a Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos e os Doze Profetas esculpidos por Aleijadinho, tombados como patrimônio nacional e da humanidade pela UNESCO. A Serra do Pires está localizada bem à frente desse conjunto, e sua destruição ou descaracterização comprometeria a integridade visual, simbólica e histórica desse bem cultural de valor inestimável.
A audiência, que deveria ser um espaço de escuta e participação democrática, foi marcada por ausências graves: nem o prefeito municipal, nem representantes do Ministério Público — dois dos quatro solicitantes da audiência — compareceram. Em contraste, a empresa lotou o espaço com cartazes e placas com frases de apoio à mineração, transformando o evento em um verdadeiro circo midiático.
Representantes da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) estiveram presentes e tentaram diversas vezes tumultuar o espaço, interrompendo falas de moradores e tentando impedir suas manifestações. O presidente da audiência precisou intervir para garantir o direito à fala da população. O ápice do desrespeito veio quando um dos presentes, usando um colete com frases de defesa à mineração, passou diante do púlpito provocando a plateia: mandou beijos, dançou e debochou publicamente da dor e das denúncias ali apresentadas.
Para o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o episódio é mais um retrato do projeto de mineração em curso no país, que se impõe sobre territórios, destrói modos de vida e ameaça, inclusive, nossos patrimônios históricos mais sagrados — tudo em nome do lucro.
Congonhas está em alerta! A resistência das comunidades se fortalece, e a luta é por justiça ambiental, respeito ao patrimônio cultural e dignidade para quem vive sob a sombra da mineração. Não aceitaremos que nossas histórias, nossas águas, nossas serras e nossos direitos sejam enterrados junto aos rejeitos de uma indústria predadora.
