Mães atingidas: cozinhas solidárias são fundamentais no reestabelecimento das mulheres do Vale do Taquari (RS)

Seja na produção ou recebimento das marmitas, o trabalho realizado pelas cozinhas coordenadas pelo MAB no Rio Grande do Sul garante segurança alimentar a mães e filhos

Marisa Wassem, atingida de Arroio do Meio (RS), grávida do seu segundo filho. Foto: Francisco Proner / MAB

No próximo dia 06 de junho, Marisa Wassem dará à luz ao seu segundo filho. Em meio a lama, que tomou conta dos dois pavimentos da sua casa, ela tenta reorganizar o lar para a chegada do bebê. Apesar de não ter mais os móveis, roupas e todo o enxoval que havia adquirido para o filho, ela organiza com carinho o que sobrou das enchentes. “Casa, por enquanto, a gente não achou em outro lugar. Então vamos ter que continuar aqui e rezar para não chover”, relata. Há 34 anos, ela mora em Arroio do Meio (RS), no Vale do Taquari, e nunca havia presenciado uma inundação tão grave.

Na cidade, os atingidos ficaram 28 dias sem energia elétrica e só agora puderam retornar às suas casas para limpar o que ficou. “Por aqui não tem nem como fazer comida e o nosso tempo é muito curto, porque é muita coisa para limpar. Então, as marmitas têm salvado a gente. Além disso, o pessoal me deu roupinha, assistência e fraldas. É uma ajuda bem boa mesmo. Muito obrigada!”, comemora a atingida.

Por dois dias, Giovana Scheeren ficou abrigada com seus três filhos – de cinco, quatro e sete – em um estábulo com cabritos até que as águas do Taquari baixassem. Durante todo esse tempo, a família sobreviveu apenas com leite e bolacha, já que o fogão, os mantimentos e toda sua casa estavam inundados. Com o recuo do rio, ela conseguiu retornar para o lar e agora o momento é de muito trabalho. Desde o retorno, a família tem recebido as marmitas produzidas na Cozinha Solidária de Arroio do Meio.

“Eu não tenho mais gás para fazer comida e aqui na cidade os alimentos estão escassos e com o preço superfaturado. Então, as marmitas têm sido um apoio inexplicável”, conta.

Giovana Scheeren, atingida de Arroio do Meio (RS). Foto: Francisco Proner / MAB

Luana Paloma de Jesus foi atingida pelas enchentes de setembro e por oito meses morou com o companheiro e os filhos em abrigos da cidade. O último deles foi soterrado pela lama da enchente do mês de maio. Uma semana antes das cheias, Luana e a família foram contempladas com uma moradia nas casas provisórias construídas no município para atender os desabrigados de setembro.

Desde o início do mês, ela está à frente da Cozinha Solidária organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens. No local são preparadas cerca de 200 marmitas ao dia, que atendem o almoço e o jantar das pessoas atingidas. Luana conta que decidiu se dedicar ao trabalho solidário por sentir na pele o que é ter que resistir e retomar a vida fora de casa. “A gente tenta oferecer uma comida quentinha e gostosa, que seja não só um alimento, mas um afeto para esse momento crítico”, conta. “O nosso trabalho é focado nos lugares que não estão sendo atendidos, nas regiões periféricas e nas áreas isoladas”, completa.

Construção das casas temporárias: gestação infértil

As casas temporárias anunciadas pelo governo do estado, para resolver a situação das famílias que ficaram desabrigadas na última enchente de setembro de 2023 em Arroio do Meio, só foram entregues no fim de abril, nove meses depois do prometido – tempo de uma gestação – e uma semana antes da inundação. Em oito meses, o governo do estado conseguiu construir apenas 28 moradias temporárias, que abrigam 20 famílias e têm uma dimensão de 18 metros quadrados. Antes da enchente de maio, 42 famílias do município já esperavam por uma moradia definitiva e 200 estavam em aluguel social.

“Essas casas foram tudo o que foi reconstruído no Vale do Taquari desde setembro. Das outras moradias, a prefeitura não tem sequer o terreno onde será o reassentamento e isso se repete por todo o Vale”, denuncia Djeison Diedrich, integrante da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no estado. Na avaliação do dirigente, as respostas dadas até agora pelo executivo municipal e estadual são insuficientes e morosas. Para Diedrich, a solução passa pela participação dos atingidos, desde o planejamento, escolha dos terrenos e construção das casas. “Só assim haverá um avanço, com uma proposta que dê conta da demanda e que verdadeiramente atenda a necessidade das pessoas”, pontua.

Ao todo, o MAB coordena 4 cozinhas solidárias no interior do estado, além de atuar em parceria com o MTST na Cozinha Solidária da Azenha em Porto Alegre, distribuindo quase seis mil marmitas por dia.

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