Durante visita de Lula ao Vale do Taquari (RS) MAB cobra participação e investimentos públicos na reconstrução do estado
Integrantes do Movimento entregaram carta ao presidente reivindicando que o governo envolva os atingidos no processo de reparação dos territórios
Publicado 06/06/2024 - Atualizado 06/06/2024
Na expectativa de receber o presidente Lula nessa quinta, 06, atingidos organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) se reuniram na Cozinha Solidária do Seminário Sagrado Coração de Jesus, em Arroio do Meio (RS), e escreveram uma carta ao chefe de estado. No documento, consta um apelo do Movimento para que Lula atue para garantir uma reparação justa, participativa e célere para milhares de pessoas que perderam familiares, casas, lavouras e a única fonte de renda no Vale do Taquari.
Cláudia Simone da Silva, atingida do bairro Navegantes (de Arroio do Meio), entregou o documento do MAB nas mãos do presidente. Nele, o Movimento lamenta a morte de mais de 170 pessoas, a destruição de casas, comunidades e bairros, a destruição ambiental e de postos de trabalho e da infraestrutura da região. Além disso, os atingidos pedem transparência e diálogo com o povo nesse momento.
“Queremos que o dinheiro público chegue verdadeiramente ao povo. Queremos que se estabeleça um canal fluente de diálogo e que todas as ações de união e reconstrução do Rio Grande do Sul tenham ampla participação popular. Nossas organizações possuem experiência e compromisso em trabalhar de forma organizada e eficiente, conquistando, com isso, elevação do nível econômico e cultural da população atingida. Inclusive, de imediato, é preciso prever a participação e fiscalização popular na distribuição dos recursos que estão sendo destinados pelo Governo Federal, bem como na construção das moradias e toda infraestrutura necessária”, diz um trecho da carta.
Em sua passagem por Cruzeiro do Sul, o presidente Lula disse que o povo gaúcho “não está sozinho” após a calamidade histórica. A declaração foi feita à imprensa depois da visita aos escombros do bairro Passo de Estrela, às margens do rio Taquari, onde por volta de 650 residências foram destruídas. O local apresenta um verdadeiro rastro de destruição, com montanhas de entulhos e terra tomando conta do que um dia foi uma comunidade próspera. Em sua quarta visita à região após o desastre climático do último mês, Lula esteve acompanhado dos ministros da Defesa, José Múcio, do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, da Saúde, Nísia Trindade, da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes e das Cidades, Jader Filho, entre outros assessores.
De acordo com Francisco Kelvim, integrante da coordenação do MAB, a principal expectativa do Movimento nesse momento é que o presidente Lula acelere o processo de reconstrução do estado. “A nossa proposta é que sejam construídos reassentamentos coletivos em toda a região atingida do Vale do Taquari, com ampla participação da população”, explica.
“Não estamos falando apenas da construção de casas, mas da criação de reassentamentos, onde a moradia seja base para a reconstrução dos vínculos culturais, sociais e econômicos da comunidade”, destaca o dirigente.
Kelvim reforça que o conceito de reassentamento inclui toda a infraestrutura que a população tinha antes e que tem o direito de ter: equipamentos de educação e saúde, áreas para produção e acesso ao meio ambiente. “Então, o reassentamento é uma proposta de reparação integral a essas populações”, afirma.
Em um gesto simbólico, os atingidos reunidos em Arroio do Meio plantaram um pé de pitanga no semináro, que tem sido ponto de apoio para as ações de solidariedade no município, como a distribuição de marmitas para os atingidos. Ao todo, as cozinhas solidárias em que o MAB está envolvido têm distribuído mais de 7 mil marmitas por dia em diferentes municípios afetados pelas enchentes.
Reconstrução com participação popular
Luciane Nunes Feijó, moradora do município de Lajeado (RS), conta que a principal esperança após a visita do presidente hoje ao Taquari é que os moradores consigam moradia digna em lugares onde não há enchente. “Para nós, a chuva sempre foi sinônimo de paz e tranquilidade, mas hoje não. Hoje, chove e a gente tem medo e ansiedade. Tu não sabe se a tua casa vai estar alagada, se tu vai ter que sair correndo com as tuas coisas… A gente só queria ter um lugar seguro para ficar, para dormir, para, quando chover, a gente sentir a paz de novo”, desabafa.
Uma das propostas do MAB apresentada na carta é que os moradores sejam contratados no processo de reconstrução dos municípios. Luciane explica que os atingidos do seu bairro estão motivados a se envolverem na construção das novas casas. “Essas famílias todas querem construir as moradias através de uma cooperativa. Todos querem participar da construção das suas casas, porque é muito triste cada família sair do local onde está morando, onde está toda a sua vida naquele chão, naquela casinha que passou a vida inteira construindo e hoje perdeu, né? Não tem mais pra onde ir. Então, estamos ansiosos para trabalhar na reconstrução”, afirma.
Alexânia Rossato, também integrante da coordenação nacional do MAB, ressalta a importância da escuta e envolvimento dos atingidos nesse momento de planejamento. “Queremos a participação dos atingidos no processo de reconstrução. Queremos ser protagonistas das nossas próprias condições de vida, moradias e da retomada dos nossos postos de trabalho.”
Neste contexto, a carta entregue ao presidente destaca que o MAB tem experiência na construção de reassentamentos para os afetados por barragens, o que pode ser útil também para os atingidos pelas enchentes.