Manifesto com mais de cem assinaturas é lançado em Vitória (ES) pelos atingidos por barragens

Atingidos pelo maior desastre socioambiental do nosso país se unem a diferentes organizações ao redor do mundo para exigir justiça

“Somos o “Revida Mariana – queremos justiça, reparação integral e urgente!”. Nesta terça-feira (10), na capital capixaba, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) lançou um Manifesto com mais de cem assinaturas de lideranças sindicais, populares, parlamentares e entidades do Brasil, Europa e continente Africano.

A atividade faz parte de uma extensa agenda de lutas que promete reunir centenas de atingidos e atingidas em Vitória, no Espirito Santo, para pedir justiça e reparação para limpar a lama da Samarco, Vale e BHP Billiton. O crime cometido por essas mineradoras, em Mariana (MG), no dia 5 de novembro de 2015, atingiu o Rio Doce e o litoral capixaba, e está próximo a completar 8 anos.

A iniciativa do manifesto é fortalecer a luta dos atingidos e, por meio de uma mensagem de solidariedade às vítimas, fazer com que a sociedade também se junte à campanha Revida Mariana. Tem ainda o objetivo de denunciar o descaso de governos e a morosidade da justiça brasileira. “Por justiça às vítimas e punição aos culpados, repactuação já!”

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) convida à sociedade para que possa aderir a essa articulação, lendo, assinando e divulgando o manifesto, que já recebeu adesão de entidades ligadas à educação, à saúde, Movimento de Mulheres Camponesas do Brasil (MMC), Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Rede Eclesial Pan Amazônica (Repam Brasil), Greenpeace Brasil, Sindicatos ligados à CUT e à CTB, MST e diversas entidades do Brasil, Argentina, Chile, Peru e países da Europa e África.

Leia na integra:

Manifesto: Revida, Mariana!

Quase 8 anos depois, aqui estamos nós. Atingidos pelo maior crime socioambiental da história do Brasil, mas de pé. Firmes, resilientes, resistentes. Solidários aos atingidos, mais de um milhão de pessoas que tiveram suas vidas destruídas ao longo da Bacia do Rio Doce. Irmanados com aqueles que tiveram suas histórias soterradas pela lama que recaiu sobre nós com o rompimento da barragem em Mariana. Indignados com a negligência da Vale e BHP Billiton, mineradora anglo-australiana. Estarrecidos por estes conglomerados internacionais ignorarem os avisos de que a barragem não era segura, mesmo após todos os alertas. Mas não queremos vingança. Exigimos justiça. Casas foram derrubadas, plantações e criações, devastadas, cadeias produtivas aniquiladas. Nosso Rio Doce está morto. Até hoje, falta água potável para muitas comunidades. Não é possível voltar à atividade econômica que sustentava famílias antes do rompimento, porque não há possibilidade de uso do rio para a pesca, agricultura, turismo ou lazer.

Todos os dias, as pessoas atingidas enfrentam as consequências permanentes desse crime sem punição devido à morosidade da justiça e dos governos e à tentativa vergonhosa das mineradoras de escaparem das suas responsabilidades. Ainda assim, aqui estamos. Somos o abraço de várias entidades de uma sociedade civil organizada e mobilizada. Somos um movimento amplo e plural dessa pátria marcada pela lama de um crime bárbaro. Somos a união de brasileiros e estrangeiros que se cansaram de ouvir belos discursos sobre conservar nossa natureza como prioridade para o planeta, mas que não veem as respectivas atitudes de cuidado e proteção. Assistimos revoltados às ações superficiais e insuficientes da Fundação Renova, empresa controlada pelas empresas BHP, Vale e Samarco, para nos silenciar e nos derrotar.

Estamos com o povo atingido que luta pelo que é justo e certo, nas ruas, nas redes e nos tribunais. Chegou a hora de nos unirmos para reagir. Somos o “Revida, Mariana”. Queremos justiça, reparação integral e urgente. Para ressuscitar nosso rio. Para reconstruir nossas cidades, nossas casas, nossas vidas. Para aplacar a dor das nossas perdas. Para limpar toda essa lama.

A repactuação do caso Mariana que hoje está em curso não deu valor à voz das vítimas nem da sociedade civil. Da forma como está, não contempla todas as nossas perdas e favorece apenas interesses comerciais e políticos. Com intuito de confundir e dissimular, o valor proposto para indenizações mistura recursos já pagos anos atrás. Para piorar, representa apenas um terço do que a petroleira BP pagou há mais de dez anos, pelo derramamento de óleo no Golfo do México, que era, até o rompimento de Fundão, o maior desastre ambiental do mundo. Por que devemos aceitar menos por um crime tão maior?

Exigimos uma resolução justa para todos os processos no Brasil e no exterior, com compensação dos gastos já feitos pelas vítimas para ter acesso a justiça. Exigimos reparação, compensação e indenização integral dos danos individuais e coletivos; manutenção e fortalecimento das assessorias das técnicas independentes; ações governamentais efetivas em regiões atingidas e sob risco; reparação do dano à saúde com estudos sobre contaminação; programa de transferência de renda e um fundo para projetos coletivos.

Contamos com apoio e engajamento de todos e todas que lutam por soberania e por uma sociedade justa, com qualidade de vida para as pessoas e respeito ao meio ambiente.

Se você está conosco, compartilhe, participe e ajude ao Brasil a fazer justiça!

Por isso, aqui estamos nós.

Revida, Mariana. Justiça para limpar essa lama.

Veja a lista completa de assinaturas.

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