Em Congonhas (MG), bairro Pires fica mais de 20 dias recebendo água contaminada por minério da CSN e Ferro+

Em audiência realizada no município, dirigentes do MAB cobraram punição das empresas e proteção dos direitos básicos da população que – há 10 anos – enfrenta problemas de contaminação e falta de água por conta da atuação de mineradoras

Rompimento de adutora foi causado por tráfego de caminhões da mineração. Foto: Correio de Minas

No último dia 23, foi realizada em Congonhas (MG) uma audiência para debater a situação dos atingidos pelo rompimento de uma adutora de água no município, que causou a contaminação da água que abastece o bairro Pires com lama contendo minério. A sessão contou com a presença de representantes da Prefeitura, das mineradoras envolvidas no caso, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), de vereadores do município e da deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT/MG).

Entenda o Caso

No último dia 3 de março, moradores do bairro Pires foram surpreendidos ao receberem em suas casas água tomadas por barro e imprópria para o consumo humano. A contaminação foi causada pelo rompimento de uma adutora que afetou a rede de abastecimento levando minério para a mina de água que abastece o bairro, afetando mais de 3 mil moradores.

O rompimento aconteceu por conta do tráfego de caminhões de minério da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em área que fica acima da adutora de água que abastece o bairro. Os atingidos passaram, então, por dias de desespero, sem acesso à água potável. Após o conserto dos canos, no dia 6, caminhões da empresa Ferro+ causaram um novo rompimento, levando – mais uma vez – lama contaminada para as casas das famílias.

Diante do ocorrido, a empresa disponibilizou apenas 300 galões de água para 1.200 famílias. Segundo comunicado da mineradora, moradores que precisassem de mais água deveriam ir buscar. Vale ressaltar que,há mais de uma década, os moradores do bairro lutam pela preservação das águas da Serra do Pires, que um dia já abasteceu todo o município de Congonhas.

Além da questão da contaminação da água, população sofre com o medo do rompimento da barragem da CSN, que fica a 300 metros de bairros residenciais da cidade. Foto: Joka Madruga

O problema de abastecimento e contaminação das minas e nascentes é recorrente no bairro. Há mais de uma década, os moradores lutam contra a falta de água e a contaminação de mananciais, o que já foi alvo de inúmeras audiências locais e ações judiciais. Os moradores ficaram sem água potável por diversas ocasiões devido a deslizamentos de terras na nascente de água que abastece a região. O problema teve início com a construção de uma estrada que ligará a Mina do Engenho à BR 040 para facilitar o acesso à área de mineração.

Audiência

Audiência realizada em uma escola do município reuniu representantes do poder público e das mineradoras, parlamentares, coordenadores do MAB e moradores atingidos. Foto: MAB/MG

Durante a audiência do dia 23, após fala dos moradores, um representante do MAB lembrou que a Vale já matou muitos moradores em Mariana e Brumadinho, mas que, em Congonhas, o povo não vai permitir que a CSN e a Ferro+ repitam a mesma conduta. “Não vão matar e desrespeitar mais ninguém! Foi oferecida lama para o povo beber. Essas mazelas geradas pela mineração são resultado da ganância das empresas e da omissão e subserviência da prefeitura e do legistativo local”, afirmou o militante.

A presidente da Associação de bairro (COBAPI) mostrou o exame de uma criança que está internada por intoxicação por ingerir a água contaminada. Já o coordenador do MAB, Padre Antônio Claret, cobrou de forma incisiva a punição das empresas e a garantia dos direitos do povo, em especial o direito de acesso à água limpa. O dirigente destacou que as mineradoras estão destruindo as águas da cidade. “Essa comunidade é bicentenária e as mineradoras chegaram depois, destruindo tudo”, afirmou.

Em sua fala, Beatriz Cerqueira se dispôs a levar o caso para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais para solicitar um estudo da água e do ar para cobrar a punição para as empresas envolvidas. A parlamentar também condenou o desrespeito dos representantes das mineradoras em relação aos moradores e pediu ao legislativo que se mantenha firme ao lado do povo.

Após uma série de ataques aos moradores, o representante da Ferro+, Yash Rocha Maciel, alegou que a empresa não tem mapeamento dos canos da adutora e responsabilizou a Prefeitura pelo rompimento. Já a representante da CSN disse que a empresa se empenhará para que o episódio não se repita, mas não apresentou nenhuma medida para tal. Os vereadores, de forma geral, se comprometeram em trabalhar pela punição das empresas responsáveis.

Águas para a vida e não para a morte!

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