Atingidos da Bacia do Paraopeba realizam ato em São Joaquim de Bicas que dá início à Jornada de Lutas

Atingidos reivindicam participação no processo de reparação, atendimento especializado de saúde e a realização de novos estudos sobre a qualidade de água do território

Ato integra a Jornada de Lutas que marca os 4 anos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Foto: Joka Madruga

Na manhã de hoje, 23, atingidos da Bacia do Rio Paraopeba participaram do “Ato Pelos Rios, Pelas Águas e Pela Vida!”, que aconteceu no bairro Fhemig, localizado na beira do Rio Paraopeba, em São Joaquim de Bicas (MG). O ato deu início a uma jornada de lutas que marca os quatro anos do rompimento da barragem B1, do complexo Mina do Córrego do Feijão, de propriedade da mineradora Vale. A proposta das atividades é denunciar o descaso da empresa com as populações afetadas pelo crime, que aconteceu em 25 de janeiro de 2019 e seguem aguardando a reparação dos seus direitos, o que inclui o acesso ´à água potável.

Carolina Morishita, representante da Defensoria Pública de Minas Gerais, que recebeu a pauta das comunidades, destacou que, por mais um ano, os atingidos enfrentam os mesmos problemas. “A gente tenta, de todas as formas, encontrar uma resposta jurídica, mas ela não é fácil. O emergencial não diminuiu com 4 anos. Talvez a situação esteja até mais grave do que 4 anos atrás”. Em relação ao andamento da pauta, a defensora ressaltou que o “compromisso continua constante” em atender as demandas da população e apoiar o andamento com as demais instituições de justiça.

Fernanda Portes, integrante da coordenação nacional do MAB, cobrou um espaço de discussão permanente com os órgãos de justiça sobre a questão da água. “Precisamos conseguir levar uma pauta concreta, incluindo desde uma solução para a questão da contaminação, até o atendimento das pessoas em situação de vulnerabilidade social, passando pela regularização do fornecimento de água”.

Atingidos protocolam denúncias relativas à falta de acesso à água potável

Por conta dos 12 milhões de toneladas de rejeito de minério de ferro despejados no Rio Paraopeba durante o rompimento, famílias que dependiam do abastecimento da água do rio foram prejudicadas e têm ainda hoje esse direito básico comprometido.

Lindaura Prates Pereira, atingida do bairro Fhemig de São Joaquim de Bicas. Foto: Joka Madruga

“A insegurança hídrica e alimentar se instalou em toda a região, como relata a agricultora Lindaura Prates Pereira, 56, atingida da comunidade Fehmig. “No terreno que eu tenho de 3 mil m², a gente plantava feijão, milho, várias coisas pra gente comer e comercializar. Hoje, está tudo tomado pelo rejeito. Até os pés de frutas morreram. Fora a água contaminada que deixou muita gente doente. A gente tem vizinho com doença de pele, além de gente com depressão, tentativas de suicídio. Antes aqui a gente tinha uma vida saudável”.

Durante o ato, moradores protocolaram – em conjunto – uma pauta de reivindicações para as instituições de justiça, incluindo a demanda de participação real dos atingidos no processo de reparação, a partir do direito adquirido da centralidade da dor da vítima, para que eles sejam ouvidos em todas as etapas, como nos estudos de avaliação de risco à saúde humana e risco ecológico e da construção do Plano de Reparação Socioambiental da Bacia do Rio Paraopeba. Outras demandas se referem ao acesso à água de qualidade e em quantidade suficiente para se beber e manter atividades produtivas das comunidades, o atendimento de saúde com a realização de exames especializados e a garantia de Reparação Ambiental a partir de estudos confiáveis, que não sejam feitos por empresas parceiras da Vale.

Em Luta por Reparação, Justiça e Segurança!

A programação da “Jornada de Luta 4 ANOS DO CRIME DA VALE EM BRUMADINHO – Em Luta por Reparação, Justiça e Segurança!” reunirá atingidos da Bacia do Paraopeba e do Rio Doce em atividades focadas em denunciar as violações de direitos sofridas pelos atingidos, que enfrentam a falta de avanços nas indenizações individuais, além dos danos causados graças ao contato com águas contaminadas com superbactérias, poluição do solo e do ar e com a saúde física e mental cada vez mais ameaçada.

Além disto, a ideia é homenagear a memória das 272 vidas perdidas, em especial das três ainda não encontradas. Acompanhe aqui as atividades:

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