Rompimento em Brumadinho é responsável por gerar superbactérias

Estudo confirma denúncias feitas pelo Movimento dos Atingidos por Barragens, desde 2015. Comunidades preparam Jornada de Lutas para pressionar empresas e autoridades a agirem contra a fábrica de doenças que tomou conta das regiões atingidas por rompimentos

Ria Paraopeba / Foto: Nilmar Lage

Como amplamente divulgado na imprensa, um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realizado após o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), constatou a presença de superbactérias, ou seja, bactérias que adquiriram resistência a antibióticos na água da Bacia. O rompimento da barragem de propriedade da mineradora Vale e matou 272 pessoas em 25 de janeiro de 2019.

O estudo foi motivado por uma outra constatação dos pesquisadores da UFRJ após terem atestado a morte precoce de peixes Paulistinha, presentes na fauna aquática do rio Paraopeba. Depois do rompimento, os cientistas também observaram a resistência a metais pesados nas bactérias presentes no rio, pois geralmente a resistência a metais pesados também pode estar associada à resistência a antibióticos em bactérias, como observado em estudos referentes a outros desastres da mineração em países como China, Índia e Reino Unido. 

Nas amostras coletadas, observou-se a resistência a, pelo menos, um antibiótico em todas as bactérias. Uma em cada dez bactérias apresentou resistência a três tipos diferentes de antibióticos. 

As coletas foram realizadas em oito pontos diferentes ao longo do Paraopeba em dois momentos – um deles uma semana imediatamente após o rompimento e outro quatro meses depois. Os cientistas não podem fazer afirmações sobre as condições atuais de contaminação do rio com base nos resultados de 2019, mas há forte indicação de que ainda sejam encontrados esse tipo de bactérias, pois afirmam que o derramamento de rejeitos no rio gerou um ambiente propício para tal.

Superbactérias, geralmente causadas pelo uso indiscriminado de antibióticos em humanos e animais, têm sido o grande desafio para a saúde pública em escala global. Devido a não sofrerem com o ataque do antibiótico e continuarem a se proliferar, elas têm feito aumentar o risco de morte por doenças como a tuberculose e a pneumonia, que se manifestam no sistema respiratório. 

Desde o rompimento de Mariana, que matou 19 pessoas e atingiu mais de 40 cidades nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo em 2015, o MAB tem alertado para os riscos à saúde da população, seja pelo contato direto com a lama, quanto pela contaminação das águas, solos e animais ao longo das bacias dos rios atingidos, que desaguam no mar no litoral capixaba. 

Esses riscos à saúde da população têm sido constantes e agravados à medida que os danos do rompimento não são solucionados. Em entrevista à TV Globo, José Geraldo Martins, militante do MAB, relatou sobre a vulnerabilidade da população à contaminação pela água do rio Paraopeba. “Não tem como dizer que as pessoas não vão ter contato com aquela água. Além da proximidade com o rio, que passa no fundo do quintal, ou próximo da casa, ainda tem a questão das enchentes. Toda vez que tem enchente a água (do rio) sobe e entra para dentro da casa, do terreno ou do quintal”, alertou. 

Tanto nos municípios da bacia do Paraopeba, quanto na bacia do rio Doce, atingidos relatam sobre o aumento vertiginoso do adoecimento da população, que também pode ser constatado pela sobrecarga nos equipamentos municipais de saúde, além da falta de atendimento especializado e políticas de atenção especial para com a saúde dos atingidos.

A população relata problemas de pele como alergias, manchas no corpo, feridas e coceiras, problemas gástricos e respiratórios como diarreias, dores abdominais e sangramento nasal, bem como o surgimento de câncer. Ainda é necessário um estudo para averiguar a relação dessas doenças com a contaminação da água da região por metais pesados. 

A atingida Ilza Ribeiro, moradora de Brumadinho, também relata o pavor constante de conviver com a contaminação: “a gente tem medo de tudo, medo de se contaminar, medo dos nossos filhos já estarem contaminados”.

Em Luta por Reparação, Justiça e Segurança!

Na próxima semana, o MAB realiza a Jornada de Luta 4 ANOS DO CRIME DA VALE EM BRUMADINHOEm Luta por Reparação, Justiça e Segurança! As atividades reunirão atingidos da Bacia do Paraopeba e do Rio Doce em uma programação focada em denunciar as violações de direitos sofridas pelos atingidos, que sofrem com a falta de avanços nas indenizações individuais, com águas contaminadas com superbactérias, poluição do solo e do ar e com a saúde física e mental cada vez mais ameaçada. 

Além disto, a ideia é homenagear a memória das 272 vidas perdidas, em especial das três ainda não encontradas. 

Acompanhe nas ruas e nas redes a agenda de lutas da semana e fortaleça a luta dos atingidos e atingidas: 

23 de janeiro

10h – Ato pelos Pelos Rios, Pelas Águas e Pela Vida!

São Joaquim de Bicas 

25 de janeiro

9h – Ato Indenização Justa Já!

Tribunal de Justiça – Raja Gabaglia, Belo Horizonte.

8h – 12h Participação na IV Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho

Matriz São Sebastião – Brumadinho

14h – Ato pela reparação integral dos crimes das Bacias do Rio Doce e Paraopeba

ALMG – Belo Horizonte

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