Em ato, atingidos do Rio Doce cobram compromisso de Lula com participação popular em acordo de repactuação

Mobilização reuniu atingidos de 30 cidades da Bacia do Rio Doce, em Governador Valadares, e teve entrega de pauta de reivindicações a representantes do governo

Em mobilização, atingidos denunciaram violação de direitos, como danos à saúde coletiva e dificuldade de retomada econômica, oito anos após rompimento da barragem da Samarco (Vale/BHP Billiton), em Mariana. Foto: Nane Camargos

“Um peixinho pequeno não consegue combater um peixe grande, que é a Vale e a BHP, mas com vários peixes reunidos ele vai pensar duas vezes antes de entrar numa briga com o cardume”, declarou o atingido Francisco Ribeiro Bessa, representante da comissão de atingidos da vila Krenak (ES). Com esse sentimento de coletividade e luta, os atingidos do Rio Doce elaboraram uma carta endereçada ao presidente Lula, exigindo o compromisso do governo com uma repactuação que garanta voz e poder de decisão aos atingidos.

O documento, entregue à Advocacia Geral da União e demais entidades presentes, pontua, por exemplo, a grave situação de saúde dos atingidos e a dificuldade da retomada econômica em todos os 46 municípios da Bacia, mesmo após 8 anos do crime. Na carta, os atingidos também afirmam que irão pessoalmente à Brasília e exigem ser recebidos pelo presidente.

“O governo federal está participando ativamente da mesa de negociação, mas nós acreditamos que não há repactuação sem participação social. Com o povo, a gente faz melhor e mais rápido”, se comprometeu Kelli Mafort, Secretária Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas da Secretaria Geral da Presidência.

A representante do governo elogiou a disposição e organização dos atingidos que vieram de mais de 30 cidades de toda a Bacia, do rio à foz do Rio Doce. “Quando o povo se anima a entrar num ônibus para ir para um ato reivindicar seus direitos, é porque ele quer mesmo garantir sua participação”, pontuou.

Além da carta, os atingidos também entregaram uma pauta de reivindicações com 14 pontos levantados pelos atingidos em todos os territórios. Temas como a garantia de um Fundo Social para execução dos projetos de reparação escolhidos pelos próprios atingidos e a revitalização do Rio Doce são alguns dos eixos.

“Explicamos para o governo que esses 14 pontos precisam ser contemplados na repactuação para que, de fato, os direitos das comunidades sejam garantidos”, explica Letícia Oliveira da coordenação nacional do MAB e moradora de Barra Longa.

Outra reivindicação da pauta é o reconhecimento de atingidos ainda ignorados no programas de reparação, como os povos Puri, em Minas Gerais. “Com essas entregas das pautas feitas pessoalmente pelos atingidos ao representantes do governo federal, percebemos que os atingidos ficaram com um ânimo muito grande para ir a Brasília e também construir atividades regionais, locais para seguir em luta pelos seus direitos”, pontuou Thiago Alves.

O dirigente avalia ainda que o ato ampliou a articulação dos atingidos da Bacia do Rio Doce, somando forças, por exemplo, com a regional de Governador Valadares, da Ordem dos Advogados do Brasil.

Outra representação jurídica que também esteve presente na caminhada foi Celine Barnwell, sócia do Pogust Goodhead, escritório que representa mais de 700 mil atingidos na ação sobre o caso impetrada na Corte Britânica. Ela explicou que tem visitado diversos território da Bacia e entendido a gravidade das violações de direitos cometidas “A emergência dos casos não pode levar a um acordo que não contemple todos os prejuízos das comunidades. Por isso, a ação na Inglaterra pode ajudar os atingidos a alcançarem uma indenização justa. Por isso, queremos ouvir todos vocês que estão aqui!”, declarou.

Confira a carta na íntegra:

Carta-dos-atingidos-do-Rio-Doce-ao-Presidente-Luiz-Inácio-Lula-da-Silva

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