Rogério Correia: “Precisamos ter um pé no parlamento e outro pé nas ruas, junto ao aos movimentos sociais”

Entrevista: deputado Rogério Correia fala das perspectivas para Governo Lula no que diz respeito às pautas ambientais e à garantia de direitos humanos no Brasil

Rogério Correia é mineiro e deputado federal pelo PT, atuante pela educação, agricultura familiar e defesa das pautas de diferentes movimentos sociais. É um dos parlamentares atualmente que mais se articula com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) na elaboração de uma legislação capaz de garantir uma maior segurança jurídica para os atingidos. Hoje, ele coordena a comissão externa da Câmara que acompanha a efetivação do acordo entre a mineradora Vale, as comunidades locais e o poder público. O deputado também atua para aprovar a Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB).

Deputado Rogério Correia (PT/MG) em ato do MAB em Minas Gerais. Foto: divulgação

Nascido em Belo Horizonte, o deputado conta que teve a influência dos pais para atuar nas lutas populares e começou desde jovem a atuar na militância. Hoje, sua principal missão no Congresso é representar as demandas das organizações sociais do país. Em seus dois mandados, acompanhou de perto a trajetória da lama tóxica em Minas Gerais, visitando, dialogando e representando os atingidos por barragens em sua atuação. Enquanto deputado estadual, atuou pela reparação dos danos do crime de Mariana. Já como deputado federal, acompanhou o crime de Brumadinho. “Foram dois crimes bárbaros. Um, o maior crime ambiental que já aconteceu no Brasil, o crime de Mariana. O outro, o mais trágico de todos”.

Em entrevista concedida ao MAB, ele faz um panorama do momento político e conta sobre as perspectivas em relação à atuação do governo Lula na área ambiental e em pautas relacionadas à atuação do movimento como os direitos humanos e a prevenção de crimes ambientais no país.

MAB: Na sua perspectiva, quais são principais desafios do governo Lula para reverter a política anti-ambiental da gestão Bolsonaro?

Rogério Correia: O Lula deu os primeiros passos ao criar o Ministério dos Povos Originários, ao escolher uma indígena para coordená-lo, ao colocar uma indígena na gestão da FUNAI, ao indicar Marina Silva para a pasta do meio ambiente. Agora é fazer um “revogaço” de normas anti-ambientalistas criadas pelo governo Bolsonaro. E os desafios incluem garantir o desmatamento zero na Amazônia e fazer com que todos os biomas sejam preservados no país.  Eu, por exemplo, tenho muita expectativa de aprovar minha Lei Pró-Pequi Nacional, que tem a proposta de promover a proteção da biodiversidade do cerrado e a geração de renda através do manejo sustentável na região.

MAB – Na sua opinião, como o Executivo pode atuar para prevenir crimes ambientais que aumentaram consideravelmente no governo Bolsonaro e reparar os direitos dos atingidos por grandes empreendimentos?

Rogério Correia: Teremos que aprovar uma legislação mais rigorosa contra aqueles que atacam o meio ambiente, em especial os empreendimentos na área de mineração. Cito uma lei de minha autoria que foi aprovada na Câmara: a Política Nacional dos Atingidos por Barragens, muito importante para prevenir crimes ambientais e proteger os atingidos, mas que precisa ser aprovada no Senado. A prevenção de crimes passa também pela abertura de concursos para a contratação de profissionais da área de fiscalização ambiental, porque a área de fiscalização está completamente abandonada.

MAB – Com relação à pauta dos atingidos por barragens, você acredita que o Congresso e o Executivo vão ter fôlego para aprovar a PNAB nos próximos anos?

Rogério Correia: A aprovação da PNAB é um compromisso que eu tenho e é o compromisso do presidente do Senado, o Rodrigo Pacheco, colocar em pauta esse projeto de lei e trabalhar pela sua aprovação. Eu estarei lá vigilante e atuando por isso e certamente teremos a sanção do presidente Lula. Também temos o compromisso do então senador Alexandre Silveira, que será ministro do Ministério de  Minas e Energia e que tem todo o interesse, junto à Marina Silva, de aprovar a PNAB. O MAB pode contar comigo para representar o movimento nessa luta!

MAB: De forma geral, qual sua expectativa pra o governo Lula nos temas dos direitos humanos, segurança alimentar e meio ambiente?

Rogério Correia: Temos grandes expectativas. Temos um ministro agora maravilhoso do Direitos Humanos, que é o Sílvio. E, na segurança alimentar, teremos a atuação do Paulo Texeira no Ministério do Desenvolvimento Agrário. E temos também a Marina Silva, como já comentei, no Meio Ambiente que certamente terá uma atuação exemplar. Essas são áreas essenciais para o Governo Lula e assim ele tem tratado. Temos agora que reverter o Bolsonarismo e avançar em políticas sociais abrangentes e internacionalistas pra nos tornarmos novamente uma referência para o mundo.

MAB – Qual o papel do campo progressista que compõe o Congresso nesse próximo governo?

Rogério Correia: Estamos, nesse momento, fazendo uma aliança maior que vai para além da Esquerda, porque elegemos no máximo 150 deputados de esquerda e centro-esquerda e isso nos coloca a necessidade de fazermos uma articulação em outros setores para avançarmos com nossas pautas. O que é importante de ressaltar nesse momento é a necessidade de termos também uma grande mobilização social para apoiar os avanços do governo. Mais que nunca, precisamos ter um pé no parlamento e outro pé nas ruas, junto ao aos movimentos sociais. Nesse contexto, queria parabenizar o MAB pela sua atuação firme e pela resistência há tanto tempo na articulação do povo, inclusive desde o golpe, em que estávamos vivendo momentos tão difíceis, até a vitória que estamos celebrando hoje. Estamos juntos na luta!

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 20/01/2023 por Coletivo de Comunicação MAB MG

Rompimento em Brumadinho é responsável por gerar superbactérias

Estudo confirma denúncias feitas pelo Movimento dos Atingidos por Barragens, desde 2015. Comunidades preparam Jornada de Lutas para pressionar empresas e autoridades a agirem contra a fábrica de doenças que tomou conta das regiões atingidas por rompimentos

| Publicado 16/10/2023 por Coletivo Nacional de Comunicação do MAB

Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB): entenda em 5 pontos

A luta pela aprovação de um marco regulatório para proteger os atingidos por barragens é histórica, mas os trágicos crimes ocorridos em Mariana (MG), Brumadinho (MG) e Aurizona (MA) nos alertaram para a urgência de se dar fim a um ciclo de violações sistemáticas de direitos no país e se evitar que histórias como essas se repitam

| Publicado 26/01/2023 por Coletivo Nacional de Comunicação do MAB

Michelle Rocha: os atingidos pela lama de Brumadinho pedem justiça

Na Colônia de Santa Izabel (distrito de Betim – MG), moradores são “revitimizados” pela Vale com enchentes que trazem a lama da mineração de volta pra dentro das casas dos atingidos, 4 anos depois do rompimento da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho