Michelle Rocha: os atingidos pela lama de Brumadinho pedem justiça

Na Colônia de Santa Izabel (distrito de Betim – MG), moradores são “revitimizados” pela Vale com enchentes que trazem a lama da mineração de volta pra dentro das casas dos atingidos, 4 anos depois do rompimento da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho

Moradora da Colônia de Santa Izabel sofre com o medo da contaminação dos 3 filhos que vivem a cem metros do Rio Paraopeba. Foto: Joka Madruga

A militante do MAB, Michelle Rocha, 37, é moradora da Colônia de Santa Izabel (distrito de Betim) e mãe de três filhos: Miguel, 15, Danilo, 10, e Augusto, 6. A colônia foi criada há mais de 100 anos para a internação compulsória de pacientes acometidos pela hanseníase, em um período em que o isolamento para esse tipo de enfermidade era obrigatório. A doença infecciosa e crônica é transmissível por vias aéreas, mas, diferentemente da imagem estigmatizada ao longo dos séculos, o contágio ocorre apenas por meio do convívio prolongado com alguém sem tratamento. Além disso, de 90 a 95 pessoas a cada cem têm resistência natural. Vítimas ainda hoje do estigma e do preconceito sobre a doença e seu contágio, os moradores agora têm medo de outro tipo de contaminação.

Michelle conta sobre a angústia de não saber se seus três filhos podem adoecer por conta do contato com a água ou com a terra onde eles brincam por conta da presença do rejeito de minério que tomou conta da comunidade desde 2019 e nunca foi removido. “Eu moro a 100 metros do rio e o IGAM (órgão que faz a gestão da água) diz que quem mora a 100 metros do rio não pode comer nada plantado na terra. É muito difícil explicar para o meu filho de seis anos de idade que ele não pode comer a acerola que dá no pé no meu quintal. É difícil não poder mais chegar na beira do rio, que era nosso sustento e nosso lazer e agora virou nosso pesadelo. Eu entrei para o MAB para lutar pela vida deles, pelo bem estar e pela segurança dos meus filhos, porque as joias que perderam a vida nesse crime não vão voltar mais, mas a gente ainda pode lutar pela vida dos nossos filhos”, desaba a atingida.  

A moradora também relata o drama das enchentes de 2021, que trouxeram de volta para as casas dos moradores a lama tóxica de Brumadinho. “A gente, que entrou nas casas inundadas para tentar salvar as coisas dos nossos vizinhos, saiu com a pele ferida. A Vale mandou seus funcionários para ajudar, mas eles foram orientados a não saírem na chuva e entrarem na água. Então, a Vale fala que a água não está contaminada, mas não deixa seus funcionários pisarem nela. A cada ano que passa, eles vão tirando mais funcionários deles aqui das áreas contaminadas e deixando a gente à mercê”.

Michelle mostra a marca de onde o rejeito do minério chegou na casa de moradores da comunidade no último ano. Foto: Joka Madruga

Nesse contexto, Fernanda Fortes que é uma das coordenadoras do MAB em Minas Gerais, ressalta a gravidade da postura da Vale que nega a contaminação da água, o que é comprovado por vários estudos, inclusive da Fiocruz. “Com esse discurso, eles estão incentivando os moradores a usarem uma água que vai causar doenças, a plantarem em uma terra que está contaminada. Isso é criminoso”, afirma.  

No último dia 25, Michelle participou de uma audiência na Justiça de Minas Gerais para relatar sua história junto a outros atingidos e pedir celeridade no processo sobre a reparação das do caso de Brumadinho. “Estou aqui pedindo encarecidamente que tenham sensibilidade e humanidade para olhar para vida dessas pessoas que estão há quatro anos esperando por justiça e por direito à vida”, disse.

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