Famílias jequieenses sofrem neste fim de ano com abertura das comportas da Barragem de Pedra, administrada pela Chesf

Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) aumenta vazão da barragem localizada no Rio de Contas e deixa o município de Jequié (BA) debaixo d’água

Estragos causados pela chuva em Jequié, na Bahia. Foto: Diego Mascarenhas / Governo da Bahia

Após um ano das intensas chuvas de dezembro de 2021 que deixaram centenas de cidades baianas debaixo d’água, com milhares de pessoas desalojadas e desabrigadas, a história se repete no estado da Bahia. Na cidade de Jequié, na região sudoeste, o aumento inesperado da vazão da Barragem de Pedra alagou grande parte  do município na última segunda-feira, 26, que segue com um rastro de destruição.

Leia também: QUASE UM ANO APÓS ENCHENTES EM DIVERSAS CIDADES BAIANAS, ATINGIDOS SEGUEM SEM REPARAÇÃO

De acordo com o atual prefeito da cidade, Zenildo Santana (PP), popularmente conhecido como Zé Cocá, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), responsável pela administração da barragem, agiu sem avisar em tempo hábil a prefeitura, que deveria ter sido notificada com pelo menos 24h de antecedência para que as medidas necessárias fossem tomadas. As famílias não tiveram tempo suficiente para salvar seus pertences, como móveis e documentos, e precisaram deixar às pressas suas casas. De acordo com a Defesa Civil da Bahia (Sudec), a ocorrência deixou 500 desalojados, 109 desabrigados e 6.500 outros afetados diretamente ou indiretamente.

Ione Gomes, agente de saúde e moradora do bairro Mandacarú 1, relata com indignação o ocorrido:

“Uma irresponsabilidade da Chesf. Eles abriram as comportas de vez, sem avisar com antecedência e nos deixaram nessa situação. Não se faz isso com o povo, poderiam ter aberto as comportas antes e não fizeram. Nossas casas estão alagadas e não tivemos tempo de salvar muita coisa, a maioria ficou embaixo da água” conclui.

Segundo a administração municipal, a Chesf só informou o aumento da vazão às 10 horas da segunda-feira, às 12 horas informou que subiria para 1.800 m³/s e em seguida notificaram um novo aumento, para 2.400 m³/s. O aumento do fluxo de água dentro de poucas horas justificaria o transbordamento do Rio de Contas.

Além disso, o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), responsável pelo monitoramento das barragens no estado, informou que o volume de água liberado foi três vezes maior do que o limite estabelecido para evitar inundações.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vem denunciando há anos a prática adotada pelas empresas do setor elétrico no Brasil, que segundo o Movimento, não fazem uma vazão adequada dos lagos.

“O aumento do volume de água nos reservatórios das usinas por conta do grande volume de chuvas não é novidade para as empresas, especialmente depois do ocorrido no ano passado. A abertura de comportas para controle de cheia, é historicamente utilizada como artifício para justificar a má conduta. Mesmo prevendo a cheia dos reservatórios, não liberam a água de forma gradual, mas represam para gerar energia o máximo que podem, aumentando assim seus lucros”, destaca Moisés Borges, da coordenação do MAB

Somado a isso, mesmo após uma série de iniciativas junto a órgãos públicos e à prefeitura, os atingidos das enchentes de 2021 continuam sem a devida reparação das perdas e pouco avançou da pauta.

Leia também: AUDIÊNCIA PÚBLICA CONVOCADA POR BRIGADA DE SOLIDARIEDADE EM JEQUIÉ (BA) OUVE ATINGIDOS POR ENCHENTES

Neste cenário desolador, o Movimento aponta a solidariedade e a organização popular das famílias como fundamentais para a garantia de direitos, além da necessidade de implementação de uma política pública específica para tratar de desastres naturais, “a Chesf deve reparar os danos causados e as medidas de reconstrução precisam ser protagonizadas pelos atingidos, as famílias precisam ser ouvidas neste processo. O Estado brasileiro também precisa se mobilizar no sentido da criação de uma agenda climática, que tenha em vista desastres naturais, e que coloque o meio ambiente e as populações mais vulneráveis como prioridade” afirma Borges.

Saiba como apoiar os atingidos pelas enchentes

Os brasileiros atingidos pelas enchentes nas diversas regiões do país enfrentam necessidades básicas e imediatas, como abrigo e alimento. Eles precisam de amparo por parte do Estado e das empresas responsáveis pelos empreendimentos que potencializam os efeitos das enchentes, mas você também pode ajudar! Saiba como em: APOIE O MAB.

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