Por que a energia brasileira é a segunda mais cara do mundo? Entenda em 5 pontos

Com aumentos no governo Bolsonaro, em média, brasileiro passou a gastar 25% do orçamento para pagar a conta de energia

Nos últimos cinco anos, o custo da energia elétrica no Brasil aumentou em 47% de acordo com a Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). Os aumentos sucessivos colocaram o país no topo do ranking mundial do custo de energia. Hoje, o Brasil tem a segunda conta de energia elétrica mais cara do mundo, de acordo com um estudo da plataforma Cupom Livre. O levantamento realizado em 2022 mostra que o Brasil fica atrás apenas da Colômbia. A pesquisa também aponta que – em média – 25% de todo orçamento familiar dos brasileiros é utilizado somente para pagar energia.

O custo exorbitante aprofunda a precarização da situação econômica das famílias da classe trabalhadora, que também sofrem com o aumento do preço dos alimentos da cesta básica e do gás de cozinha durante o governo Bolsonaro. Diante da situação, muitos brasileiros tiveram que optar entre pagar a conta de luz ou comprar alimentos para a família.

Entenda por que o custo da energia chegou a patamares tão altos no atual governo.

1 – Alta lucratividade das companhias de energia

De acordo com o estudo da Plataforma Cupom Livre, do total do custo pago pelos consumidores no Brasil, apenas 53,5% são efetivamente utilizados para a geração, transmissão e distribuição da energia. O restante é usado para pagar taxas e garantir altos lucros para os acionistas das empresas (em sua maioria estrangeiras) que controlam o setor de energia no Brasil. A Eletrobras, por exemplo, registrou lucro líquido de R$ 6,4 bilhões em 2020, mesmo em um ano de pandemia, tendo sido a sexta empresa mais lucrativa do país neste período. Além disso, a companhia tem uma geração de caixa de R$ 15 bilhões por ano – que agora serão totalmente destinados à iniciativa privada.

2 – Má gestão dos reservatórios das hidrelétricas

O Brasil reduziu historicamente sua dependência da energia hidrelétrica, mas ela ainda representa 65% de sua geração energética. E o regime de chuvas, do qual as usinas dependem, tem se tornado mais incerto em tempos de mudanças climáticas.  Ainda assim, muitos especialistas do setor afirmam que os aumentos na conta de luz do brasileiro não decorrem da falta de chuvas, mas da má gestão dos reservatórios das usinas hidrelétricas.

Quem faz essa gestão é o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) – órgão do governo que controla a operação das instalações de empresas de geração e transmissão. É papel dele gerenciar a produção de energia a partir das diferentes fontes com base na previsão de chuvas no país. Ou seja, em períodos de muita chuva, é preciso reservar água nos reservatórios para períodos de seca e, nos casos de previsão de secas mais longas, usar outras fontes de energia (solar, térmica, eólica) para evitar o esvaziamento total dos reservatórios das hidrelétricas. Isso evitaria emergências – como aconteceu em 2021 – em que foi preciso contratar energia das térmicas de forma urgente pagando preços abusivos pela falta de planejamento. Há também indícios de que as companhias de energia esvaziaram os reservatórios para forçar uma situação de crise e justificar a cobrança de taxas extras dos consumidores.

3 – Privatização do setor

Um dos principais projetos econômicos do governo Bolsonaro é privatizar as empresas estatais, especialmente as companhias de energia. Acontece que, em todas as cinco regiões do país onde empresas de energia elétrica já foram vendidas para iniciativa privada, há quedas de energia, falta de trabalhadores e contas caras. Isso porque, quando são privatizadas, essas empresas querem maximizar o lucro, demitem funcionários e passam a cobrar preços de mercado, impondo aumentos abusivos na conta do consumidor final. Com a privatização da Eletrobras, o custo da energia tende a ficar até 25% ainda mais caro.

Além do aumento da conta de luz, as privatizações representam um expressivo ataque a nossa soberania. A energia é um recurso estratégico, porque ela simplesmente é necessária para tudo: para colocar uma fábrica para funcionar, para gerar outras formas de energia, para manter os respiradores de um hospital ligados, uma escola funcionando, uma área agrícola irrigada. Então, colocar a produção de energia na mão da iniciativa privada é colocar não só nossa segurança econômica em risco, mas também a autonomia do país em vários setores.

4 – Bandeira Escassez Hídrica

Em abril do último ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) propôs o aumento em até 57% das bandeiras tarifárias que vigoraram na época de falta de chuvas e há os reajuste. Foram seis meses em que consumidores desembolsaram R$ 14,20 extras a cada 100 kWh consumidos. O Governo criou ainda uma nova bandeira, a da escassez hídrica, para aumentar o valor da conta de energia colocando a culpa do preço da conta em São Pedro,

5 – Subsídios para grandes empresas do agronegócio pagos pelo povo

Atualmente, o governo concede descontos na conta de luz para grandes multinacionais do agronegócio que representam um custo de R$ 3,4 bilhões por ano. Esse custo é cobrado nas contas de eletricidade de todos os consumidores do país. Vale destacar que governo dá mais descontos na conta de luz para grandes empresas e indústrias do que para a população de baixa renda que têm direito à tarifa social.

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