Seminário discute integração e soberania energética e elétrica no Cone Sul

Debate sobre Itaipu marcou o terceiro dia do Seminário “Soberania e Integração Elétrica Regional – Modelo Energético Atual: Desenvolvimento para quem e para quê?”

Com formato virtual nas redes sociais e presencial em Foz do Iguaçu, Seminário reuniu organizações do Brasil e Paraguai

Na manhã da última sexta (26), a programação do seminário, que aconteceu em Foz do Iguaçu (PR), com participação presencial e remota, teve como foco as questões que envolvem o controle e a operação da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Lutas e desafios, acordo Lula-Lugo, revisão do contrato entre Brasil e Paraguai, impactos sobre os territórios dos povos originários e soberania dos povos foram alguns dos temas abordados.

Na primeira mesa do dia, Ricardo Canese, parlamentar do Mercosul (Frente Guasu), e Leonardo Maggi, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), falaram do acordo de 2009 feito entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo, do Brasil e Paraguai respectivamente, da revisão do anexo C de Itaipu em 2023 e da conjuntura energética do Cone Sul.

Segundo Canese, o mercado regional de energia tem por base de precificação geral os custos das termoelétricas, mesmo que os países tenham outra fonte energética majoritária, como as hidrelétricas no Brasil e Paraguai. “Por isso, é importante a integração elétrica, para reduzir a queima de hidrocarbonetos na região, reduzir o custo global da geração e reduzir a emissão de gases”, afirmou o parlamentar. Canese ressaltou ainda que, na Argentina, 60% da geração de energia depende da queima de hidrocarbonetos provenientes de combustíveis fósseis. Para ele, o acordo Lula-Lugo é uma ferramenta para avançar na soberania, integração e solidariedade entre os países: “Então, a questão geral é bem clara: integração com plena soberania. Integração que dê conta das diferenças e se fundamente na solidariedade”, disse.

Nesse contexto, Leonardo Maggi reforçou que a usina de Itaipu foi financiada com recursos públicos, portanto, pertence ao povo. “Itaipu não foi paga pela Eletrobras, não foi paga pela ANDE, foi paga pelos consumidores. Nós estamos há 50 anos pagando, todo mês, nas nossas contas. Ela é nossa, ela é do povo. Depois de 50 anos, o justo é ela ser de uso-fruto do povo”, complementou.

Encontro contou com a participação de organizações, parlamentares, movimentos sociais, populares e sindical, entre outros. 

A mesa que tratou do tema dos povos originários contou com a apresentação de Cristóbal Martínez, representante dos povos indígenas Avá-Guarani atingidos pela usina de Itaipu, e Celso Ocoy, da Aldeia Tekoah Ocoy, coordenador regional da Comissão Guarani Yvyrupa Nacional. Os convidados afirmaram que os governos do Paraguai e Brasil precisam reconhecer as dívidas históricas que possuem com o povo indígena e reparar os danos causados principalmente nesses quase 50 anos, desde o início da construção da hidrelétrica e expulsão dos povos nativos de suas terras.



No terceiro espaço da manhã, Mercedes Canese, integrante da Campanha Itaipu 2023 Causa Nacional, do Paraguai, apresentou o histórico da binacional chamando atenção para o fato de que apenas uma mudança na utilização das fontes de energia não impede a destruição do meio ambiente, o etnocídio indígena e a exploração da população. “Sem integração e sem soberania, a energia vai beneficiar as grandes transnacionais e não os povos”, afirmou a palestrante, que acredita na elaboração coletiva como fonte de uma transformação estrutural da sociedade.

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