Joelisia Feitosa: o sonho e a luta por justiça para os atingidos de um dos maiores crimes socioambientais do país

Natural de Juatuba (MG), Joelisia nasceu e cresceu na beira do Rio Paraopeba, onde pretendia desfrutar de sua aposentadoria depois de uma vida dedicada à militância e ao sindicalismo no serviço público. Quando esse momento chegou, ela viu a lama-rejeito da Mina Córrego do Feijão invadir o rio da sua infância e soterrar a região com incertezas, medos e inseguranças. “Ao invés de descansar, tive que arregaçar as mangas e voltar à luta ”.

“Foi nos tirado o direito à água limpa, o direito ao lazer, o direito à dignidade, mas nós aprendemos com a experiência do MAB que a justiça só vem através de muita luta e organização”, conta Joelisia. Hoje, ela é uma das lideranças do Vale do Rio Paraopeba que atuam ativamente na busca pela reparação integral dos direitos dos atingidos e pela recuperação econômica e ambiental do território.

Além das 270 mortes e da contaminação da água, do solo e do ar, o crime da Vale em Brumadinho alterou drasticamente a vida comum no Vale. A lama-rejeito destruiu a rotina de quem pescava ou plantava na beira do rio, de quem perdeu a casa, o trabalho, os vizinhos, de quem passou a ter medo da água que corre no quintal – os níveis de metais do rio são motivo de preocupação constante das autoridades sanitárias e de moradores.

Na luta contra todas essas violações, Joelisia afirma que a força coletiva do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) tem sido essencial para a conquista de direitos básicos de milhares de pessoas que hoje enfrentam uma multinacional com o poder da Vale na Justiça para tentar retomar sua vida com dignidade.

“O MAB fala minha língua, o MAB sente o que eu sinto, o MAB sofre e sente o que a população mais abandonada sente, o negro, o pobre, o índio, a mulher, os que não têm acesso à justiça. Por isso, eu visto a camisa do MAB e me enxergo dentro do MAB e vou sendo fortalecida e tentando fortalecer esse movimento”.

* Esse artigo faz parte de uma série de perfis de coordenadores do MAB produzidos em celebração aos 30 anos do Movimento.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 04/03/2023 por Camila Fróis / MAB

Carolina Morishita: “A construção coletiva da reparação digna no caso Brumadinho é fruto da união de forças dos atingidos perante uma das maiores empresas do mundo”

Entrevista: A defensora Carolina Morishita fala sobre o processo de Brumadinho e destaca a importância da reparação coletiva e da criação de um marco legal para proteção dos direitos dos atingidos

| Publicado 01/12/2023 por Coletivo Nacional de Comunicação do MAB

Beatriz Cerqueira: “A PNAB sinaliza um horizonte em que o Brasil buscará a reparação de décadas de violações de direitos humanos”

Entrevista: a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT/MG) fala dos impactos sociais, psicológicos, econômicos e ambientais causados pela atividade da mineração no estado de Minas Gerais e destaca o terror vivido pela população de Congonhas que vive abaixo da Mina da Casa de Pedra

| Publicado 02/08/2024 por Camila Fróis / MAB

CAITLIN SCHROERING | “A luta por direitos deve ser globalizada, porque a exploração está conectada, como mostram as mudanças climáticas”

Membro do Comitê de Solidariedade ao MAB nos EUA, a professora universitária Caitlin está atuando como voluntária em Canoas (RS). Em entrevista exclusiva, ela defende a colaboração entre movimentos sociais de diferentes partes do mundo para que o poder popular possa mudar os sistemas que estão destruindo o meio ambiente e oprimindo as pessoas