Um ano após grande enchente, comunidades em Raul Soares (MG) vivem outro alagamento e culpam Brookfield, proprietária de barragem

Atingidos cobram plano de prevenção da empresa junto ao poder público para resolver situação

A zona da mata mineira sofreu com enchentes neste último final de semana. O município de Raul Soares, há um ano, teve enchentes de grandes proporções, assim como Granada, distrito de Abre Campo. Estima-se que, na época, em Raul Soares 300 casas tenham sido atingidas, em Granada praticamente todo o distrito ficou debaixo de água.

Foto: MAB-MG

Os bairros Vila Parente, Rua de Ubá, Rua Bom Jesus, Tarza, Vila Esperança e Vila Barbosa localizados à beira do rio, em Raul Soares e no distrito de Granada, estão localizados abaixo de duas barragens hidrelétricas de propriedade do grupo privado Brookfield.

Nas enchentes de 2020, já há indícios, de acordo com estudo realizado pelo Ministério Público Estadual (MPMG), que as barragens aumentaram a quantidade e o nível da água na enchente. Porém, a empresa não reconheceu sua responsabilidade.

Neste final de semana, os moradores relatam medo, sentimento de injustiça e de desrespeito. “Nós perdemos tudo ano passado e agora vem a empresa e faz tudo de novo, ela precisa controlar essa água lá, não pode nos tratar como objeto, precisa nos respeitar”, diz Claudio, da comissão dos atingidos chamada SOS Enchentes.

Marco Aurélio, atingido pelas duas enchentes, lembra que a principal pauta de reivindicação dos atingidos em 2020 ainda não foi cumprida:

“Nós queremos um plano de como evitar essas enchentes e também como monitorar, avisar e apoiar a população nesses momentos terríveis. A gente passa a noite de olho no nível do rio e tirando as coisas da gente de dentro de casa”, relata o atingido.  

Os atingidos tentam compreender como é possível que, com duas barragens acima deles, a empresa Brookfield não consiga controlar a água e não possua um plano de prevenção de enchentes junto ao poder público.

“Dessa vez choveu mais e a água subiu menos. Isso mostra que algum controle a empresa tem da água através das barragens, e que esse controle não foi usado em 2020, que o que ocorreu em 2020 foi um descontrole total. Agora nós não queremos mais enchente nenhuma, precisa existir uma forma de resolver isso, estamos indignados”, diz Samira também atingida pelas duas enchentes.

Luta

No domingo (21), quando a água começou a baixar, os atingidos fizeram um ato de protesto em frente a portaria de uma das barragens, a PCH João Camilo Pena ou PCH Emboque, na área rural de Raul Soares.

Em janeiro deste ano, quando o marco da enchente anterior completou um ano, os atingidos também fizeram atos pela cidade e na portaria da barragem. A principal reivindicação é uma reunião com a empresa Brookfield para tratar dos danos e da prevenção das enchentes.

Todo o município de Raul Soares e o distrito de Granada são atingidos há mais de 20 anos pela construção das hidrelétricas, com diversos direitos violados até hoje. “O que vemos em relação as enchentes é o padrão de violação de direitos que é cometida pelas empresas privadas, donas de barragens, no caso a Brookfield”, analisa Leticia Oliveira da coordenação regional do MAB.

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