Em coletiva internacional, MAB reafirma denúncia de acordo injusto entre Vale e governo de MG sobre Brumadinho
Entrevista virtual contou com a participação de jornalistas do Brasil e de mais 15 países; MAB se posicionou contrário ao modelo de acordo entre Vale e governo Zema na Justiça, que deixou de fora os atingidos
Publicado 23/01/2021 - Atualizado 11/03/2021
Na tarde desta sexta-feira (22), o Movimento dos Atingidos por Barragens recebeu jornalistas de veículos nacionais e internacionais em uma Coletiva de Imprensa sobre o marco dos dois anos do crime da Vale em Brumadinho.
Estiveram presentes 33 organizações, entre veículos de mídia e entidades parceiras de 16 países. Participaram Joceli Andreoli, da coordenação nacional do MAB, Joelisia Feitosa, atingida na cidade de Juatuba, no leito do rio Paraopeba, e Juan Pablo, da coordenação do MAR, Movimiento de los Afectados por Represas, coletivo internacional de atingidos por empreendimentos.
Sem participação, sem reparação
“Faz quase um ano que a Vale, as instituições de justiça e o governo de Minas Gerais tentam construir uma estratégia de acordo, com a Vale se safando das ações judiciais para não ser punida pela Justiça aqui no Brasil, e ela fez disso uma grande propaganda, inclusive com seus acionistas” , alerta Joceli Andreoli, do MAB.
Andreoli se refere ao Acordo Judicial travado no TJMG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) que foi promovido desde o início sem nenhuma participação dos atingidos pelo rompimento da barragem.
Na última quarta-feira (20), o Movimento foi surpreendido com a notícia de que os processos ligados ao acordo foram redistribuídos da 1ª para a 2ª instância, o que foi caracterizado pelo MAB como “golpe aos atingidos”, já que o juiz que o juiz que acompanhou todas as rodadas de negociação até então deixou de ser o responsável pela homologação, por enquanto.
Segundo o integrante da coordenação do MAB, muita coisa está em jogo neste acordo e nas movimentações escusas da Vale, incluindo a perda do direito às Assessorias Técnicas, que realizam o levantamento dos dados nas regiões afetadas, e a perícia independente da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Além disso, há grande preocupação com o fim do pagamento do Auxílio Financeiro, pago desde o crime, pois sem ele, muitas famílias não terão nenhuma renda, já que o rio Paraopeba, fonte de sustento para as comunidades, segue totalmente poluído com os rejeitos do rompimento.
As Assessoria Técnicas são fundamentais, é um direito garantido em lei, que tem a função de garantir as provas do crime a partir da ótica dos atingidos. As equipes estão, agora, no trabalho de construção da matriz de danos, e a Vale quer romper com isso”, diz Andreoli.
“O povo ficou sem o básico, que é a água, sem água fica muito difícil a sobrevivência” afirmou a atingida Joelisia Feitosa, que atuava como pescadora.
“A Vale não cumpre nem mesmo o que já foi acordado com a Justiça, ela manda e desmanda no nosso território, fica querendo fazer acordos individuais e nem mesmo esses acordos está cumprindo”, aponta Feitosa.
Coordenador do MAR, o colombiano Juan Pablo prestou solidariedade aos atingidos pelo crime em Brumadinho e relembrou a visita que fez na ocasião da marcha do ano passado, quando o rompimento completou um ano. “Foi muito triste”, conta Pablo. “Nós saímos daquele evento com a mensagem de divulgar que a Vale era criminosa e estava negando o direito dos atingidos, hoje, infelizmente, vemos que o próprio Estado brasileiro também integra essa estratégia “, destaca o ativista.
Sobre o crime
Com o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em 25 de janeiro de 2019, 272 pessoas morreram e o rio Paraopeba, importante fonte de renda para mais de 20 comunidades, ficou totalmente destruído, afetando o modo de vida de milhares de pessoas. A situação das famílias atingidas é acompanhada desde o início pelo Movimento dos Atingidos por Barragens, que nesses dois anos, luta por direitos e reparação justa e integral para os moradores da bacia do rio Paraopeba.
Ações de denúncia
Desde dezembro do ano passado, o Movimento dos Atingidos por Barragens organiza a “Jornada de Lutas: 2 anos do crime da Vale em Brumadinho – Justiça só com luta e organização”.
O calendário de lutas conta com uma série de atividades de denúncia da situação crítica dos atingidos: presenciais, na porta do TJMG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais), respeitando os protocolos de segurança contra o contágio do coronavírus, e virtuais, com encontros temáticos e ações nas redes sociais sobre a alteração no modo de vida dos atingidos da bacia do rio Paraopeba afetados com o crime e a impunidade da empresa na falta de justiça e reparação para as vítimas.
Neste sábado (23), será realizado um ato das mulheres atingidas por barragens com transmissão ao vivo pelas redes sociais do MAB; e na segunda-feira (25), um tuitaço unificado com diversas organizações parceiras irá marcar o dia de ações nas redes, além dos atos de rua em diversos pontos do estado de Minas Gerais.