Em defesa da Amazônia: solidariedade e fora Bolsonaro

Nos próximos meses, a Amazônia passará a conviver com quatro inimigos simultâneos: a devastação da floresta por incêndios criminosos, a pandemia da Covid-19, um presidente neofascista e o capitalismo imperialista.

Por Robert Rodrigues*

Estamos entrando no período das grandes queimadas na Amazônia. Nos próximos meses, a região passará a conviver com quatro inimigos simultâneos: a devastação da floresta por incêndios criminosos, a pandemia da Covid-19, um presidente neofascista e o capitalismo imperialista. A solidariedade, o fora Bolsonaro, a luta e a organização popular cumprem, nesse contexto, um papel fundamental na defesa da Amazônia, da vida do povo e da soberania nacional.   

O fogo e o vírus 

Se 2019 foi um ano trágico para a Amazônia, em termos de desmatamento e queima da vegetação, as projeções apontam que 2020 pode ser ainda pior. Nos três primeiros meses do ano tivemos um aumento de 51% de derrubada da floresta, em comparação com o mesmo período do ano passado; ao mesmo tempo, foram registados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), 2.248 focos de queimadas apenas no mês de junho, a maior taxa dos últimos 13 anos.

A região amazônica, que historicamente padece com uma das estruturas de saúde pública mais precarizadas do Brasil, onde estados como Amazonas e Pará tem 7 e 8 leitos de UTI para cada 100 mil habitantes, respectivamente, e regiões como a Xingu, onde está a barragem de Belo Monte, tem 9 leitos para 400 mil pessoas, vem sofrendo amargamente os efeitos da pandemia. Centenas de milhares de pessoas nas cidades, rios, aldeias e quilombos já foram infectadas e perderam a vida na Amazônia.

Essa situação tende a se agravar com a elevação das queimadas. De acordo com o INPE, a circulação de fumaça deve degradar a qualidade do ar e aumentar a incidência de doenças respiratórias e pulmonares nos estados amazônicos, aumentando a letalidade do vírus e sobrecarregando ainda mais as poucas unidades de saúde. Enquanto isso, ao passo em que nem saímos do primeiro surto da pandemia, governos estaduais decretam a reabertura dos comércios, planejam a volta às aulas e flexibilizam restrições, liberando praias, bares e restaurantes que se apinham de pessoas em julho.  

O imperialismo e o neofascismo

Sabemos, porém, que a destruição da floresta está atrelada a um projeto muito maior, de apropriação das riquezas naturais da Amazônia pelo capital internacional. A terra, a biodiversidade, a água, os minérios, o potencial energético e o petróleo, tudo em abundancia na região, são bases naturais que representam a possibilidade de geração de lucros extraordinários para um capitalismo em profunda crise. Com a pandemia da Covid-19, o FMI projeta uma queda de 4,9% na economia do mundo. Neste cenário o que se desenha é o acirramento do conflito interimperialista pela Amazônia: União Europeia e grandes fundos privados pressionam o Brasil, Estados Unidos e China disputam pelo controle da região, enquanto isso Bolsonaro acelera como pode a sua entrega.

Com o período das queimadas se aproximando, fica fácil prever qual será a atitude adotada pelo governo federal: negacionismo, negligência e irresponsabilidade. Se, diante do coronavírus, o presidente nega a gravidade da pandemia, não adota medidas eficazes no seu combate e estimula aglomerações que proliferam o contágio, no tema da Amazônia a conduta será a mesma. O projeto neofascista de Bolsonaro é para atender às frações burguesas no Brasil que representam setores do capital financeiro e sustentam o seu governo; deste modo, ele e Ricardo Sales pretendem deixar a “boiada passar”, omitindo-se de ações para coibir as queimadas e aproveitando-se da crise sanitária para desmontar o que ainda resta das estruturas de fiscalização e proteção ambiental.        

Solidariedade constrói dignidade 

Contudo, a pandemia também veio reforçar, em nossa prática militante, o valor da solidariedade, colocando-a no centro da tática que executamos hoje, como ferramenta fundamental para se efetivar a defesa da vida, da saúde e dignidade das pessoas, opondo-se ao projeto neofascista que produz a morte ao priorizar o lucro. Desde o início da pandemia, um exército de militantes populares vem se desafiando, nos quatro cantos do Brasil, a atender às necessidades básicas do povo, negligenciadas pela maioria dos governantes.

Entregamos milhares de toneladas de alimentos para famílias carentes, máscaras, álcool em gel, kits de higiene e gás de cozinha; lutamos por medidas essenciais como a isenção nas tarifas de água e energia para famílias baixa renda e ajudamos inúmeras pessoas a acessarem o auxílio emergencial e a tarifa social de energia elétrica; em nossas ações, levamos informação sobre os cuidados com a saúde, prevenção e higiene; combatemos, enfim, todos os tipos de violação aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras nesses tempos de coronavírus.

Organização conquista direitos

Aprendemos, deste modo, nas fileiras do movimento popular, que por mais distante, forte e violento possa parecer nosso inimigo, só a luta política organizada, com unidade e participação ativa das massas, pode construir a força social necessária para derrubá-lo. Temos a tarefa de acumular o máximo de forças para derrubar Bolsonaro e pôr fim em seu projeto genocida e entreguista, mas é fundamental também implementarmos, na prática, a solidariedade em defesa da Amazônia.

Ano passado o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) iniciou a campanha Plantando Vidas, distribuindo milhares de mudas e fazendo o reflorestamento da Amazônia; vamos continuar, ampliar e fortalecer essa campanha. É indispensável, também, tornar mais ampla possível a rede de defensores dos ecossistemas amazônicos, desenvolvendo ações educativas com o povo, de cuidados com a saúde e preservação da floresta; seguir com as entregas de alimentos, priorizando, incentivando e fortalecendo a agricultura familiar e seus produtos. Aprendemos com Florestan Fernandes que a burguesia nada fará por nós, ela é reacionária e conservadora, precisamos, portanto, construir uma estratégia nacional e internacional de mudança profunda da realidade, sem perder de vista a defesa da soberania nacional, da Amazônia e seus povos. 

Podemos, nesse sentido, caminhar na direção de sonhar um sonho coletivo, mais próximo de se tornar realidade do que quando se sonha só. Vivemos tempos difíceis, em que perdemos amigos, familiares e companheiros e o luto parece não ter fim. A nossa luta, contudo, também nunca termina. Continuaremos em marcha, fortalecidos com a memória de nossos mártires, para derrubar o neofascismo, colocar a vida acima do lucro e defender a Amazônia, seguindo o caminho da construção de uma pátria livre e popular no Brasil.

Defender a Amazônia é Defender e Vida!

Água e Energia não são Mercadorias!     

*Robert Rodrigues é integrante da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no estado do Pará, psicólogo e mestrando em psicologia na Universidade Federal do Pará (UFPA)

(Foto: Carol Ferraz/Amigos da Terra Brasil)

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