Saúde é luta, afirmam mulheres atingidas

Foto: Mídia Ninja O dia a dia das vidas das mulheres atingidas por barragens em Minas Gerais é luta. Luta pela sobrevivência da família, dos filhos pais e companheiros. Luta […]

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O dia a dia das vidas das mulheres atingidas por barragens em Minas Gerais é luta. Luta pela sobrevivência da família, dos filhos pais e companheiros. Luta contra as violações dos direitos, contra as empresas criminosas Vale, Samarco, BHPBilliton e Fundação Renova.

Durante Encontro dos Atingidos, na Arena de Mariana, elas puderam falar das dificuldades e resistência que vivem em suas regiões. Relatos de contaminação, aumento de uso de drogas e álcool, suicídio, acesso ao trabalho foram compartilhados durante a manhã da segunda-feira, 04.

Segundo Letícia Oliveira, do Movimento dos Atingidos por Barragens-MAB, as mulheres são as maiores vítimas dos crimes de barragem no Brasil e no mundo. Após perguntar quais mulheres na plenária já haviam carregado baldes de água na cabeça para garantir os cuidados da família, muitas delas levantaram os braços.

 

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“Quando as empresas destroem nossos rios e a natureza, há falta de água. As empresas dizem que a falta de água é pela falta de chuvas ou problemas na região, mas pros ricos sempre tem. O acesso à água é somente um dos muitos direitos negados às mulheres”, afirmou ela,

Os problemas de saúde gerados pelos crimes de mineração estão entre os principais problemas sofridos pelas mulheres atingidas. Responsabilizadas pelos cuidados com a família, elas sofrem as dificuldades de acesso às políticas públicas, cada dia mais sucateadas com o atual governo no Brasil.

“Já não tem mais o programa Farmácia Popular, o Mais Médicos, programas como o de prevenção à gravidez na adolescência e outros. Há um desmonte no SUS, além da precarização do trabalho e o fim da aposentadoria, aprovado recentemente. Tudo isso reflete na saúde do povo também atingido, por que saúde é muito mais que médico, remédios e exames”, reflete José Geraldo Martins.

Maria Lindalva, de Baguari, em Governador Valadares, conta que a comunidade não foi reconhecida pela Fundação Renova após quatro anos do crime. “Eles falam que não fomos atingidos mas depois que estouraram as barragens nós temos muitas doenças por lá. Eles falam pra levar laudo, mas os médicos não dão laudo”.

 

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O município de Brumadinho vive casos graves de adoecimento mental. Miquéias Ribeiro, do MAB na região, conta que houve aumento no índice de tentativa de suicídio nas escolas. “Esses casos subiram muito, e aumentou também o estado de depressão das pessoas. Estão se enfiando no remédio, todo o tempo é gente visitando o CAPS, e a prefeitura teve até que contratar mais profissionais e psicólogos”, preocupa-se.

Mas há esperança, e a pesquisadora Dulce Maria sabe onde está. “A gente precisa ter muita força. E se tem alguém no país que sabe construir esperança são as mulheres, as mulheres do MAB”, anima-se. A professora, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), realizou pesquisas nas regiões atingidas pela barragem de Fundão e afirma que a contaminação de metais pesados é risco para a saúde de toda a população.

Ela confidencia que vê na luta do movimento uma importante contribuição para o Brasil. “As mulheres do MAB estão ajudando o país e o mundo a entender que para as empresas a gente não vale absolutamente nada. Depois destes anos de luta, já tem muito mais médicos e gente nas universidades entendendo isso, agora é hora de continuar na luta”, convida Dulce.

Sem dúvida. Assim as mulheres seguem, em luta, com garra, nas ruas e em suas casas. São mulheres atingidas defensoras da vida.

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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