Atingidos repudiam elogios de Bolsonaro a torturadores chilenos

As declarações de Bolsonaro são inaceitáveis e não representam o sentimento dos atingidos por barragens. O MAB se solidariza com a ex-presidenta do Chile Michelle Bachelet, e repudia veementemente a […]

As declarações de Bolsonaro são inaceitáveis e não representam o sentimento dos atingidos por barragens. O MAB se solidariza com a ex-presidenta do Chile Michelle Bachelet, e repudia veementemente a vergonhosa atitude do presidente do Brasil.



 Panfleto de denuncia realizado pelo Movimento Contra a Tortura Sebastián Acevedo (MCTSA), setembro de 1987.

 

Quando o presidente chileno Salvador Allende foi derrubado e assassinado em 1973, iniciou-se no Chile uma das ditaduras mais sanguinárias e criminosas da história da América Latina. O golpe militar, que começou com o bombardeio do palácio La Moneda e terminou em março de 1990, foi comandado pelo General Augusto Pinochet e contou com o apoio direto dos Estados Unidos. Segundo dados da Comissão Nacional sobre Prisão Política e Tortura, a ditadura chilena vitimou mais de 40.000 pessoas, das quais 3.065 foram mortas ou estão desaparecidas.

Nesta quarta- feira (4), o presidente do Brasil Jair Bolsonaro atacou à Alta Comissionada das Nações Unidas para os Direitos Humanos e  ex presidenta do Chile entre 2006 e 2010 Michelle Bachelet e exaltou Pinochet. Em entrevista em Genebra, na Suíça, a Comissionada disse que houve uma “redução do espaço democrático” no Brasil e fez declarações sobre a violência policial no país: “Vimos uma alta em violência da polícia, em meio de um discurso público que legitima execuções sumárias e uma falta de responsabilização”. Bachelet acrescentou: “Esses aspectos são importantes quando se ouve negações de crimes estatais do passado, o que é personalizado pela proposta de celebração do golpe militar, combinado a uma transição incompleta do sistema judicial, o que pode aumentar a impunidade e reforçar a mensagem de que agentes do Estado estão acima da lei e podem matar sem serem responsabilizados”.

Bolsonaro respondeu dizendo que Bachellet está “defendendo direitos humanos de vagabundos”. Sobre a afirmação da ex-presidenta de que houve uma redução do espaço democrático no Brasil, o presidente fez mais uma de suas afirmações repudiáveis: “Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 73, entre eles o seu pai, hoje o Chile seria uma Cuba”. É uma menção ao homicídio de Alberto Bachelet, general da Força Aérea chilena, opositor do regime pinochetista, morto pelas torturas recebidas na prisão. Para o presidente do Senado chileno, Jaime Quintana, as declarações de Bolsonaro “deveriam provocar um rechaço transversal e contundente de todos os setores políticos chilenos. A fala faz referência aos Direitos Humanos, e nesse tema devemos ter uma linha só e um mesmo entendimento”.  

Moisés Borges, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, afirmou:  “O MAB presta solidariedade ao povo chileno, vítima da ditadura criminosa. Essas declarações que exaltam Pinochet são repudiadas pelos atingidos por barragens, que são contrários às formas e práticas autoritárias e ditatoriais”. E acrescentou: “enquanto Bolsonaro ataca Bachelet, a ex presidenta do Chile, no seu papel de comissionada da ONU para os Direitos Humanos, recebeu este ano os atingidos e prestou solidariedade às vítimas dos crimes da Vale em Minas Gerais”.

Francisca Rodriguez, camponesa da Via Campesina no Chile, disse: “Nos solidarizamos com Bachelet, mas sobretudo com o povo chileno. Com todos os que lutaram com o governo popular pelo qual o general Bachelet também entregou sua vida. Hoje, o triunfo de Allende completa 49 anos, em um processo que poderia ter sido maravilhoso para América Latina e foi interrompido por Pinochet. Uma declaração dessa ordem assemelha Bolsonaro a Pinochet”.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro