Ameaçados pelas hidrelétricas Garabi/Panambi se reúnem no RS

No último dia 31 de maio, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) promoveu reunião da Coordenação Regional do Movimento, para discutir sobre a segurança das populações atingidas e ameaçadas […]

No último dia 31 de maio, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) promoveu reunião da Coordenação Regional do Movimento, para discutir sobre a segurança das populações atingidas e ameaçadas e as riquezas geradas pelas barragens do RS.


Foto: Gerson Rodrigues/Afinal Press.

A reunião aconteceu na Associação Regional de Educação, Desenvolvimento e Pesquisa (AREDE), em Santa Rosa (RS) , e contou com a participação das assessorias dos deputados Jeferson Fernandes (PT) e Elvino Bohn Gass (PT), lideranças sindicais do município e da região e religiosas, com presença de representantes da diocese de Santo Ângelo e da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) de Boa Vista do Buricá.

Durante a reunião foi apresentado o panorama nacional e estadual das barragens, sendo que das mais de 24 mil barragens cadastradas no Brasil, 10.774 estão no RS, segundo o SNISB (Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens) e, dentre estas apenas 1.716 estão sob normas da Política Nacional de Segurança de Barragens. Para além disso, hoje segueM em tramitação cerca de 809 projetos para instalação de novas Pequenas Centrais Hidrelétricas no RS, segundo a FEPAM/RS.

Na reunião, foi apontado que a região noroeste do estado enfrenta constantes problemas com enchentes, decorrentes da vazão vinda das barragens rio acima. Assim, evidencia-se que atingidas por barragens não são apenas as pessoas que têm suas terras inundadas pelo lago de uma hidrelétrica. Os números e o histórico de rompimentos de barragens no país e no estado apontam para a importância da discussão do tema da segurança das comunidades atingidas e ameaçadas ao entorno e a jusante das barragens.

Nas explanações, foi apontado para a deficiência no sistema de fiscalização das barragens, tanto pelo processo de autofiscalização feito pelas empresas donas dos empreendimentos, quanto pela fiscalização feita pela ANEEL, que conta com apenas 16 funcionários para essa função a nível nacional. De acordo com a Política Nacional de Segurança de Barragens (Lei N° 12.334/2010), os planos de segurança, que são de responsabilidade das empresas donas das barragens e deveriam ser elaborados e executados com participação popular, não são de conhecimento das comunidades atingidas, que não possuem treinamento de como agir em caso de rompimento.

Também foram apresentados dados sobre a produção de riquezas e o lucro exorbitante das empresas donas das barragens, na casa de milhões de reais por dia, sendo que apenas 1% desse montante retorna para os municípios, em forma de Compensação Financeira por Uso de Recursos Hídricos (CFURH), os “royalties das barragens”, além de pagarmos a 5ª maior tarifa de energia do mundo. As barragens deixam um rastro de impactos sociais, emocionais, ambientais e econômicos, promovendo a exploração dos territórios e a concentração de riqueza para a iniciativa privada estrangeira, indo na contramão da construção da soberania energética nacional, sem promover o desenvolvimento das regiões em que estão instaladas.

Atualmente, a população da região noroeste encontra-se apreensiva pela retomada das negociações entre Brasil e Argentina para a construção do Complexo Hidrelétrico Binacional Garabi/Panambi, no último trecho não represado do Rio Uruguai, que alagará uma área de mais de 90 mil hectares, atingindo diretamente em torno de 12 mil pessoas. O projeto, que é composto por dois barramentos que formariam o maior complexo hidrelétrico do Brasil, estava suspenso desde 2015 por uma liminar, produto da luta das populações ameaçadas por esses empreendimentos. A negação do direito de acesso às informações a respeito do projeto e sua execução faz com que paire na região um sentimento de incerteza sobre o futuro.

Na reunião foram dados encaminhamentos para a conscientização da população sobre os riscos da construção do Complexo Garabi/Panambi, de forma a disseminar as informações pela região. De acordo com Tereza Pessoa, da Coordenação Estadual do MAB, o debate de segurança de barragens é relevante não apenas para as populações ribeirinhas, mas para toda a sociedade. Nas palavras de Tereza: “A questão energética atinge a todos nós, independente se moramos nas barrancas dos rios, sendo atingidos de forma direta ou indiretamente. Assim, para nós, ameaçados por Garabi/Panambi, foi muito importante essa integração dos sindicatos e igrejas, nessa conjuntura conturbada, para unirmos forças na contestação a esse projeto que não trará desenvolvimento para a região”.

 

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