Ato em Curitiba de solidariedade às vítimas da Vale em Brumadinho pede reflexão sobre superação para impedir novos crimes nas barragens
Por: Paula Zarth/ Terra Sem Males Fotos: Ricardo Stuckert Ao som de estilhaços, a representação de um rio de águas azuis que aos poucos é coberto pela lama marrom, tóxica, […]
Publicado 06/02/2019
Por: Paula Zarth/ Terra Sem Males
Fotos: Ricardo Stuckert
Ao som de estilhaços, a representação de um rio de águas azuis que aos poucos é coberto pela lama marrom, tóxica, e depois coberto pela bandeira branca da Vale. Ao som de uma canção à capela, que descreve corredeiras de sangue inocente, um militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) pinta em vermelho a palavra assassina sobre o símbolo da empresa. As místicas são realizadas em todos os eventos de luta e celebração organizados pelos movimentos sociais que atuam no país.
Na noite desta terça-feira, 05 de fevereiro, simbolizou a denúncia, iniciada após um minuto de silêncio, relembrando, até o momento do ato, as 134 vítimas e outras mais de 230 pessoas desaparecidas. Ainda uma estimativa, questionada em quantidade pela população local, o rompimento da barragem de rejeitos de lama de mineração de Brumadinho, ocorrida no dia 25 de janeiro, mudou a história de vida das famílias de mais de 300 pessoas. Precisamos da solidariedade, mas precisamos também construir meios de superar, para impedir que aconteça novamente, afirmou Daiane Machado, do MAB, ao contextualizar informações sobre o crime em Brumadinho.
Durante ato de solidariedade realizado em Curitiba, a militante relacionou o risco das barragens à privatização da antiga empresa estatal Vale do Rio Doce, vendida pelo governo FHC, para que as tragédias sejam um impedimento para que outras privatizações ocorram. Comparando o rompimento em Brumadinho com o ocorrido em Mariana, no ano de 2015, que completou 39 meses nesta mesma noite, Daiane explicou que a quantidade de rejeitos espalhados pela natureza foi menor desta vez: 13 milhões de metros cúbicos; no anterior foram 50 milhões. Mas a falta de segurança, como sirenes ou mesmo um plano de evacuação na área, justamente nas instalações administrativas da Vale, culminou nessa quantidade de vítimas. A empresa não se preocupa com os trabalhadores, declarou.
Os rejeitos atingiram a sede administrativa e o refeitório da mina, onde trabalhavam aproximadamente 650 pessoas, entre trabalhadores da empresa e terceirizados, casas, sítios, uma pousada. No rompimento de Mariana, foram 19 vítimas fatais, mas diversas localidades arrasadas. Nenhuma casa foi reconstruída, nenhuma família foi realocada, denuncia o MAB. Outra estratégia da Vale, de acordo com os atingidos, é controlar informações. A população ribeirinha não sabe sobre as minas, sobre as licenças; a Vale controla o acesso à água, tenta coibir a organização coletiva dos atingidos. De acordo com dados divulgados pelo MAB, no Brasil existem cerca de 24 mil barragens, incluindo as hidrelétricas, de água e de minério. Dessas, somente 4.510 são submetidas a um plano de segurança. E desse contingente, somente 3% é vistoriado. A barragem que rompeu em Brumadinho teve sua vistoria realizada em 2018. Nela, foi autorizada sua utilização por mais 10 anos; a classificação de risco caiu de 5 para 4, que representa risco menor. Também foi autorizado aumento de capacidade de produção da barragem em mais de 50%, num complexo que representa 2% da extração de minério da Vale.
Esse modelo de barragem é feito porque é mais barato. Nós precisamos pensar em como se organizar para manter as empresas estatais e refletir sobre as consequências da privatização de uma empresa estratégica, alerta o MAB. Precisamos construir meios de superar isso e impedir que aconteça novamente, defendeu Daiane. O ato de solidariedade às vítimas de Brumadinho teve a presença de representantes de diversas organizações sociais, e se manifestaram Regina Cruz, pela Frente Brasil Popular, Darci Frigo, pela Terra de Direitos, Mikail, pelo Movasse, a vereadora Professora Josete, a deputada estadual Luciana Rafagnin, o deputado estadual Professor Lemos e Angelo Vanhoni, pelo Partido dos Trabalhadores. O repórter fotográfico Joka Madruga, do SindijorPR e do site Terra Sem Males, falou sobre a atuação do MAB em Mariana, que ele acompanhou in loco para registrar as ações logo após o rompimento da barragem em 2015. O MAB é um importante movimento que auxilia e organiza as famílias atingidas para lutarem por seus direitos, destacou. O militante Rodrigo Zancanaro falou sobre as famílias atingidas por barragens no Paraná e sobre a atuação do MAB junto a essa população. O ato em Curitiba de solidariedade às vítimas de Brumadinho foi realizado na sede da APP Sindicato na noite de terça-feira, 05 de fevereiro.