Eletricitários denunciam novo foco de privatização da energia: as distribuidoras

Trabalhadores eletricitários realizam hoje atos nacionais contra as novas estratégias golpistas do governo para a privatização do setor Paralisação de trabalhadores da Eletronorte pede a saída do presidente da estatal […]

Trabalhadores eletricitários realizam hoje atos nacionais contra as novas estratégias golpistas do governo para a privatização do setor

Paralisação de trabalhadores da Eletronorte pede a saída do presidente da estatal em Rondônia (Foto:MAB/RO)

Hoje (17) trabalhadores eletricitários se uniram a movimentos populares que compõem a Frente Brasil Popular em diversos pontos do Brasil, para denunciar a nova estratégia golpista do governo ilegítimo de Temer: a privatização do setor elétrico “por camadas”, focando na entrega das distribuidoras.

Para entender um pouco melhor o novo cenário que se coloca para o setor elétrico conversamos com Fabiola Latino Antezana, dirigente do STIU/DF, principal sindicato representante da categoria dos eletricitários. Segundo ela, após a demonstração de um possível recuo na privatização geral da Eletrobrás no Congresso, os setores golpistas tem buscado novas táticas de atuação. Confira abaixo a entrevista na íntegra.

MAB: Por hora, os setores golpistas no Congresso demonstraram um possível recuo na privatização geral da Eletrobrás, explicado em partes pela proximidade das eleições. Quais são as novas estratégias golpistas para a privatização envolvendo as distribuidoras e o que está por trás delas?

Fabíola: A proximidade das eleições fez com que os senadores saíssem em defesa das empresas dos seus estados. No momento, eles continuam a defender a privatização, só não de suas empresas. É uma clara saída política para a situação eleitoral dos mesmos em seus estados. Portanto, o Governo não desistiu de privatizar, apenas está vendo a melhor forma de fazê-lo e como capitanear mais o processo.

Foto: STIU/DF

MAB: Quais são as principais distribuidoras que estão sendo entregues e por que são tão estratégicas?

Fabíola: As distribuidoras que iniciaram o processo são as federalizadas da Eletrobras: Acre, Alagoas, Amazonas, Piauí, Rondônia, Roraima. São empresas que atuam em estados com IDH baixíssimos, como o Alagoas e Piauí, ou em Estados com dificuldades geográficas como as demais que atuam na região Norte, área de floresta Amazônica, em que a distribuição ainda depende muito da vontade política de fazer as interligações, já que as distâncias são grandes e as redes de distribuição não são lucrativas. A Amazonas Energia por exemplo, faz a distribuição nas áreas de fronteira do país, garantindo um mínimo de segurança ao Brasil como um todo. Ainda, como são Estados que carecem de políticas públicas, estas empresas acabam fazendo essa parte social também. 

MAB: De que forma seriam realizadas estas vendas?

Fabíola:A venda está prevista em forma de leilão, a princípio em bloco. O que ocorre é que recentemente a Eletrobrás assumiu uma dívida que pode chegar a 20bilhões, justificando o processo de venda das distribuidoras por valores baixíssimos. Estima-se que cada uma delas seja vendida a apenas 50mil reais. Como conseguimos uma liminar para barra o leilão, o governo está prevendo seguir apenas com o leilão da CEPISA, a distribuidora do Piauí, e dessa forma dar uma sinalização positiva ao mercado. Vemos que os interessados estão bem definidos, pelo menos no Nordeste, aonde a ENEL tem demonstrado muito interesse na CEAL e CEPISA.

No Piauí, trabalhadores da CEPISA estão paralisados durante toda esta terça-feira (Foto: Sind. Urbanitários – PI)

MAB: Quais os principais impactos na população caso estas distribuidoras sejam vendidas e também com a total privatização da Eletrobrás?

Fabíola: No caso da privatização das distribuidoras, há o impacto direto para a população desses estados no que diz respeito à piora no serviço e no aumento de tarifa. Tão logo se iniciou esse processo, a ANEEL autorizou reajustes tarifários superiores à inflação nesses estados, com promessa de mais aumentos pela frente. Tomamos como exemplo o que ocorreu em Goiás, privatizada recentemente, 2017. Em um ano todos seus indicadores pioraram (o Estado vive 7x mais apagões e o tempo para o reestabelecimento da energia aumentou em 1h na média) e a tarifa subiu em quase 15%. A promessa com a privatização era de que os indicadores melhorariam no primeiro ano pós-privatização, mas a realidade mostrou algo bem diferente.

A privatização total da Eletrobrás traz um impacto para todos os brasileiros e brasileiras na questão tarifária, basta ver o exemplo da Argentina e Portugal. Na Argentina o aumento já chega a 700%. Ainda, temos o prejuízo de perder a soberania sobre os recursos naturais, pois, quem controlar as usinas hidrelétricas terá um acesso aos cursos d’água e as áreas de mata em torno dos reservatórios de forma sem precedentes. Estamos na contramão de países que possuem uma matriz energética próxima a nossa, como o Canadá, EUA, que mantem suas usinas na mão do Estado, por questões de segurança nacional.

Chama a atenção a vontade do governo em querer não apenas privatizar a maior empresa do sistema elétrico brasileiro, mas em querer alterar todo o modelo energético brasileiro a 5 meses de findar um mandato, e sem ter feito a discussão ampla com todos os segmentos da sociedade. Qual o interesse que está por trás dessa vontade louca de fazer alterações tão grandes? Apenas conseguimos ver o interesse das grandes corporações e associações, em detrimento da necessidade da sociedade brasileira.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro