Ribeirinhos e indígenas resistem à construção de hidrelétrica no Tapajós
Um ambicioso projeto para a região amazônica está tirando o sono dos moradores das comunidades ribeirinhas às margens do rio Tapajós. Com a construção da hidrelétrica de São Luís do […]
Publicado 11/10/2012
Um ambicioso projeto para a região amazônica está tirando o sono dos moradores das comunidades ribeirinhas às margens do rio Tapajós. Com a construção da hidrelétrica de São Luís do Tapajós o vilarejo de Pimental, onde vivem por volta de 700 ribeirinhos, corre o risco de ficar debaixo dágua.
O projeto de construção da usina ainda está em fase de estudos para o licenciamento ambiental. Mas as violações aos direitos dos ribeirinhos já começaram. Eles entram aqui sem pedir a ninguém, saem fazendo perguntas e não explicam nada para as pessoas, denuncia seu Luiz, um dos moradores do Pimental.
Ele se refere aos funcionários da Geosul, empresa contratada pela Eletronorte para fazer os estudos de licenciamento. De acordo com os moradores, uma das estratégias que essa empresa utiliza é tentar dividir a comunidade para enfraquecer a resistência.
Os moradores de Pimental estão dispostos a resistir à construção da usina. Eles estão se empenhando em construir os grupos de base do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) para se fortalecerem.
A moradora mais antiga do local, conhecida como Dona Gabriela, reafirma: Estou disposta a brigar para não construírem a barragem. Aqui é bom, vivemos tranqüilos. Onde vão agasalhar tanta gente?, questiona a mulher, muito lúcida aos seus 104 anos de idade. Dona Gabriela chegou ao local aos 9 anos de idade.
Se construída, a usina de São Luís produziria 6.133 MW, potência inferior apenas às hidrelétricas de Itaipu, Belo Monte e Tucuruí. A barragem teria 39 metros de altura e 3.483 de comprimento e seria construída em uma das áreas mais preservadas da região amazônica, o Parque Nacional da Amazônia. Outras seis usinas estão em estudo para a bacia do Tapajós. Elas afetariam a região de maior biodiversidade do mundo, com 11 unidades de conservação.
Além dos ribeirinhos, a construção do complexo de hidrelétricas pode atingir as populações indígenas do local. No final de setembro, os pesquisadores tentaram entrar na aldeia Apiacás sem autorização dos indígenas. Acabaram sendo expulsos. O cacique da aldeia, Juarez, reforçou a necessidade de os indígenas se unirem aos ribeirinhos na resistência à obra. Essa usina vai ser uma tragédia para nós, vamos lutar contra, afirmou.
A Fundação Nacional do Índio (Funai) nunca concluiu o processo de demarcação do território da aldeia. Essa situação deixa os indígenas vulneráveis, já que por lei é proibido construir hidrelétricas em terras indígenas demarcadas. De acordo com a Funai, há por volta de 500 indígenas vivendo na região.
*Com informações do jornal Valor Econômico