Violência patriarcal faz mais uma vítima em Altamira
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vem a público denunciar o assassinato da militante Maria do Socorro, em Altamira, no Pará. Aos 22 anos, Maria foi morta pelo marido […]
Publicado 13/08/2012
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vem a público denunciar o assassinato da militante Maria do Socorro, em Altamira, no Pará. Aos 22 anos, Maria foi morta pelo marido na noite de quarta-feira, 2 de agosto. O agressor, conhecido como Souza, está foragido.
Socorro morava na rua Seis Metros, região de milhares de famílias ameaçadas pela construção da barragem de Belo Monte. Em setembro de 2011, nessa mesma rua, foi assassinada Francisca, também pelo marido, que está solto até hoje.
Nós, do MAB, acreditamos que a violência contra as mulheres é fruto de um modelo patriarcal de sociedade, no qual as relações pessoais não estão fundamentadas no afeto, mas nas relações de poder e propriedade. Nesse modelo, a mulher é vista como um objeto que pertence ao homem e tem por obrigação lhe servir e dar prazer.
A violência contra as mulheres em nosso país se mostra em dados alarmantes. De acordo com dados da Fundação Perseu Abramo, Instituto Sangari/DATASUS e OMS, a cada 24 segundos, uma mulher sofre violência física no país. Mais de 40% das mulheres brasileiras já sofreram violência doméstica. Entre 1997 e 2007, 10 mulheres foram assassinadas por dia no Brasil.
Essa situação de violência e dominação, estrutural em nossa sociedade, é agravada nos locais onde são construídas as barragens. De acordo com o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, a construção de barragens causa violação de direitos humanos de maneira sistemática em nosso país. Por sua posição de submissão e vulnerabilidade, as mulheres são as mais prejudicadas nesse processo.
Em Altamira, casos de assassinato e situações de violência em geral tem se tornado cada vez mais freqüentes desde o início da construção de Belo Monte. Com o começo da obra, em menos de um ano, a população de Altamira, que antes era de 100 mil habitantes, passou a ser de 145 mil. Só nas obras da usina há, atualmente, cerca de 8 mil pessoas trabalhando. Deste total, 75% são homens e 40% vieram de outros estados. Em 2013, ano de pico da obra, o número de operários deve chegar a 23 mil.
A infraestrutura da cidade não está preparada para receber esse contingente de pessoas. O resultado é o aumento da violência, do tráfico de drogas e da prostituição, incluindo a exploração de crianças e adolescentes. Esse cenário de degradação atinge principalmente as mulheres e agrava o problema da violência e da desestruturação familiar.
O MAB é solidário com a família de Socorro e continuará fazendo todo esforço para a organização do povo para lutar por seus direitos. Repudiamos a construção da barragem de Belo Monte, um dos principais vetores de violência em toda a região.
Acreditamos também na importância de fortalecer cada vez mais a participação das mulheres nas lutas e de inseri-las nas instâncias do Movimento. Lutamos pela superação do patriarcado e do capitalismo e trabalhamos para a construção de uma sociedade igualitária.
Socorro
Por Antônio Claret Fernandes, militante do MAB em Altamira
Fez-se turva a razão
Sem razão
Sob o Belo Monstro de mentiras que destila violência.
O ódio invadiu o coração do amor
Uma flor
Uma jovem vida em flor
Uma antiga paixão
Um corpo de mulher estirado ao chão.
Se corro!?
Socorro!
O golpe foi muito veloz.
Altamira não viu nem sentiu
Apenas comentou apressada: um homem matou mais uma mulher!
Mas o grito de Socorro não quer calar-se:
No grupo de base
Na turma de formação
No seio da terra
Na guerra à violência brutal.
Semente
Gente desperta
Indignação
Ternura
Luta
Amor ao povo