O dilema de Belo Monte

Matéria publicada originalmente na edição 19 do Jornal do MAB Andar por Altamira e região nesses últimos meses é como atravessar um grande canteiro de obras. A única diferença é […]

Matéria publicada originalmente na edição 19 do Jornal do MAB

Andar por Altamira e região nesses últimos meses é como atravessar um grande canteiro de obras. A única diferença é que em Altamira as famílias residem dentro dele. Assim, as obras seguem seu ritmo no meio do povo, trazendo à tona as contradições que o Movimento dos Atingidos por Barragens já havia alertado que aconteceriam antes mesmo do início da construção.

A posição do MAB sempre foi contrária à construção da usina de Belo Monte, porque esta obra é um desastre social e ambiental e não se justifica pela sua capacidade de geração de energia. Em fevereiro de 2010, quando o Movimento foi recebido por Lula, o MAB solicitou publicamente: “que não se leve adiante a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e que esta questão seja um dos pontos de debate com a população brasileira”. Já em abril de 2011, quando 500 mulheres atingidas por barragens foram recebidas pela presidenta Dilma, mais uma vez o MAB manifestou: “reafirmamos nossa posição contrária a construção da usina de Belo Monte e pedimos a imediata suspensão dos trabalhos naquela região” (veja as cartas entregues pelo MAB à presidência nas duas ocasiões no pé da matéria).

Mesmo com as ações de protesto dos atingidos, de diversos movimentos sociais e ambientais, de artistas, estudantes, da comunidade nacional e internacional, Belo Monte está sendo construída no coração da Amazônia em nome de velhos discursos da ditadura militar: trazer a integração e o desenvolvimento a uma região esquecida. De fato, o desenvolvimento para a população foi esquecido, mas o potencial energético, mineral e do agronegócio não! São projetos pensados de fora, para atender a demanda de fora.

Neste momento em que as obras ganham força, o Estado não tem propostas claras de tratamento à população. Só em Altamira estima-se que serão cerca de 40 mil atingidos, e até o momento, nada existe de concreto que sinalize a chegada do desenvolvimento às populações locais. “Falam em reassentamentos urbanos, e afirmam que as famílias têm que escolher entre a casa e a indenização. Mas como escolher se não existe nem sequer área comprada para construção dessas novas casas? São mais de 5 mil casas que devem ser construídas e ninguém sabe para onde vai”, denuncia uma militante do MAB na região.

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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