Seminário Internacional: rumo ao Rio de Janeiro, em outubro
Sob uma tempestade de neve que assola os Estados Unidos desde a madrugada, hoje (14), encerrou-se o II Seminário Internacional Alimentos, Água e Energia não são mercadorias, na cidade de […]
Publicado 15/03/2017
Sob uma tempestade de neve que assola os Estados Unidos desde a madrugada, hoje (14), encerrou-se o II Seminário Internacional Alimentos, Água e Energia não são mercadorias, na cidade de Newark, Nova Jersey. O dia que marca as lutas contra as barragens, pelos rios, pela água e pela vida foi em lembrança das lutadoras assassinadas, Berta Cáceres, de Honduras, e Nicinha, militante do MAB em Rondônia.
Ao final do Seminário, foi aprovada uma carta que aponta os principais aspectos refletidos durante o evento e os compromissos assumidos coletivamente. Entre os compromissos, está o de continuarmos fazendo análises da conjuntura de forma conjunta com o indicativo do próximo momento ser durante o Encontro Nacional do MAB, em outubro, no Rio de Janeiro.
Carta do II Seminário Internacional Alimentos, Água e Energia não são Mercadorias
De 12 a 14 de março de 2017, nós, que viemos de 11 países e representamos 32 organizações sindicais, sociais, ambientais, de direitos humanos e indígenas, nos reunimos em Newark, nos Estados Unidos, para o II Seminário Internacional Alimentos, Água e Energia não são mercadorias, onde discutimos assuntos relacionados à mercantilização da energia e da natureza, à soberania alimentar, à atuação das transnacionais, à luta das populações atingidas por grandes projetos do capital e a defesa desses territórios.
A partir dos debates e das contribuições dos participantes, fizemos uma análise da realidade atual em que vivemos, visando subsidiar o processo de organização e luta nas distintas partes do mundo de onde viemos.
Analisamos que o capitalismo vive uma crise que é de caráter produtivo e provoca consequências terríveis na sociedade, alastrando-se para a crise civilizatória e provando que, além de ser insustentável, espalha conflitos armados pelo mundo, intensifica a destruição da natureza e o aumento das desigualdades sociais, a perseguição religiosa e por diferentes orientações sexuais, o racismo, a patriarcado, o machismo, a xenofobia e todos os tipos de discriminação.
Esse sistema não é capaz de prover as demandas básicas da humanidade como alimentação para toda população, saúde, educação, dignidade, liberdade e justiça. Portanto, quem paga a conta da crise e sofre as consequências do capitalismo é a classe trabalhadora, em especial as populações negras, imigrantes e os povos tradicionais e indígenas.
Para superar a crise, o capitalismo intensifica sua exploração sobre a natureza, através da apropriação da água, territórios, sementes, florestas, petróleo, minérios e sobre os trabalhadores e trabalhadoras, retirando direitos, reduzindo salários e precarizando as condições de trabalho.
A energia é central na disputa pela hegemonia no mundo, os capitalistas tentam se apropriar das fontes mais produtivas, a fim de garantirem lucros extraordinários e o controle geopolítico. Isso nos impõem a necessidade de discutirmos com profundidade e construirmos um modelo energético que tenha como objetivo a soberania dos povos, respeito as comunidades atingidas e que tenha controle popular.
Água e alimento também sofrem o processo de mercantilização e são intensamente disputados. Assim, o direito ao acesso a esses recursos são negados a milhões de pessoas, o que causa fome e pobreza no campo e na cidade, expulsão dos camponeses da terra e das famílias dos centros urbanos. A agudização dos conflitos pela água nos obrigam a severas reflexões acerca das lutas necessárias e urgentes para a sua manutenção em condições de acesso e qualidade a todos os trabalhadores.
Vivemos no mundo um momento de avanço das forças conservadoras, marcadas com as características do fascismo, cujo propósito é aprofundar o neoliberalismo, atacar os direitos humanos, ameaçar a democracia e as organizações populares e provocar a desestabilização política dos países. Tais forças, aproveitando o momento de crise, tem se referenciado utilizando a grande mídia e a propaganda, apoderando-se das estruturas de Estado em várias partes do mundo.
Se não bastasse, multiplicam-se os casos de criminalização das lutas e de comunidades tradicionais e indígena que defendem a terra por séculos, além das prisões e assassinatos de lutadores e lutadoras. É importante reconhecer que a crise é global por que os atores que a criam são transnacionais e, sendo assim, nossas lutas de resistência devem ser internacionais.
Diante desse cenário, as organizações reunidas neste seminário compreendem que:
– É necessário fazermos trabalho de base e envolvermos a maioria da população para construirmos força social e fazermos lutas de resistência e construção de um projeto dos povos;
– É necessário um esforço coletivo para construção da unidade dos mais variados tipos de organizações dispostas a lutar contra o capitalismo e o patriarcado e pela construção de uma nova sociedade;
– É necessário construir um projeto de sociedade de forma coletiva, onde apontaremos as nossas propostas, guiadas por um pensamento ecológico, de soberania energética, alimentar e hídrica e todas as demais questões importantes para a vida do povo, com leis justas e respeito à Mãe Terra. Este projeto deve ser apresentado de forma clara e apropriada para a sociedade.
– É necessário o permanente cultivo dos princípios que desejamos para a nova sociedade, tais como a solidariedade, companheirismo, internacionalismo, sustentabilidade, igualdade com respeito às diferenças, anti-racismo, feminismo, ecologismo, negação das guerras;
– É necessário seguir com o processo de construção de uma análise conjunta entre as organizações envolvidas com o tema da água, energia e alimentos, além de avançar nas articulações e lutas unitárias entre essas organizações.
Alimento, Água e Energia não são mercadorias!