Mulheres bordam resistências e debatem justiça climática nas periferias do Distrito Federal
Oficinas de arpilleras unem arte, memória e denúncia nas regiões administrativas de Ceilândia e Sol Nascente
Publicado 30/04/2025 - Atualizado 30/04/2025

Desde o ano passado, linhas, agulhas e memórias vêm costurando histórias de resistência em dois dos territórios mais potentes do Distrito Federal: Ceilândia e Sol Nascente. O projeto “Vidas trans(bordadas): conectando mulheres, arte e resistências através do bordado em Arpilleras como linguagem artística e política na identificação e enfrentamento às mudanças climáticas e na defesa de uma transição energética justa”, tem criado um espaço coletivo onde o bordado é ferramenta de denúncia, de cura e de luta.
Inspiradas na tradição latino-americana das arpilleras chilenas – criadas como forma de resistência à ditadura de Pinochet -, as mulheres utilizam pedaços de tecido, costuras e colagens para narrar as suas lutas e sonhos, as violações de direitos das mulheres, a realidade da periferia, suas dores e os impactos sentidos em seus territórios por conta da desigualdade socioambiental, injustiça climática e da precariedade e falta dos serviços públicos. O projeto é realizado pela Associação de Proteção ao Meio Ambiente (Apema) em parceria com a Secretaria de Formação, Livro e Leitura, do Ministério da Cultura.
“Aqui a gente sente na pele o que é a injustiça ambiental. Quando a seca é grande no DF, e precisa racionar, é aqui que falta água. Quando a energia sobe, quando alaga… é sempre a gente que sofre primeiro”, relata Ivanete Silva dos Santos, moradora do local e integrante da Casa da Natureza, um dos lugares que recebeu as oficinas.

As oficinas de arpilleras são ferramentas de organização da luta das mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens em todo o país. Brasília já recebeu exposições na Universidade de Brasília, no Congresso Nacional, de peças de arpilleras feitas em todo o Brasil pelas mulheres do MAB. Agora o movimento vem também bordando a resistência e luta das mulheres da periferia da capital do país.
Nas peças de arpilleras já feitas, os temas centrais foram o racismo ambiental na periferia do DF, as queimadas – que foram recorde no ano de 2024 -, direito à moradia e à cidade (retratando a forte especulação imobiliária e grilagem no DF, que dificultam a moradia popular e ameaçam a natureza), a poluição do Rio Melchior (um dos mais poluídos do DF, localizado em Ceilândia), além de sonhos de como a cidade poderia ser se fosse feita para o povo.
Diante da ameaça da Usina Termelétrica (UTE) de Brasília, as oficinas com as mulheres também passaram a retratar os riscos de implantação do projeto, que está planejado para ser construída em Samambaia e Recanto das Emas, regiões vizinhas a Ceilândia e Sol Nascente.
“Mais do que uma atividade artística, as oficinas se firmam como espaços de formação política, escuta ativa, organização das mulheres e construção de estratégias coletivas para enfrentar essa conjuntura tão violenta e desigual”, afirma Sara Oliveira, da coordenação do MAB no Distrito Federal.
