Movimentos protestam contra construção de termelétrica em Brasília

Projeto prevê usina movida a gás fóssil em região periférica do DF, gerando impactos ambientais e sociais

Foto: comunicação MAB

Movimentos populares, lideranças comunitárias e moradores se reuniram na tarde desta quarta-feira (12) para protestar contra o projeto de construção de uma termelétrica em Brasília (DF). A usina está prevista para ser instalada na Região Administrativa de Samambaia. O ato ocorreu em frente ao Sest-Senat, onde seria realizada uma audiência pública sobre o projeto, cancelada pouco antes do início.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) havia convocado a audiência, mas a Justiça suspendeu a atividade de última hora devido a divergências na sua divulgação entre o órgão licenciador (Ibama) e a consultoria responsável pelos estudos de viabilidade ambiental (Ambientare).

O cancelamento foi visto como uma primeira vitória pelos manifestantes, pois a audiência é uma etapa obrigatória no processo de licenciamento ambiental. Mesmo assim, as organizações decidiram manter a mobilização em frente ao local para denunciar o projeto.

“A quem interessa a construção de uma usina a combustível fóssil aqui no DF, em pleno agravamento da crise climática? Com certeza não beneficia a população, pois o que trará é apenas poluição do ar, desmatamento do Cerrado e aumento da escassez de água, quando já sofremos com secas extremas”, afirma Isabelle Avon, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Ela também destaca que não há gás fóssil disponível no Distrito Federal, o que exige a construção de um gasoduto de 800 quilômetros, o Brasil Central, ligando São Carlos (SP) ao DF. Segundo o Instituto Arayara, o projeto pode dobrar as emissões de gases de efeito estufa na região.

Foto: comunicação MAB

“Além de todos esses impactos, a população também enfrentaria graves riscos à saúde, não apenas em Samambaia e Recanto das Emas, mas em todo o Distrito Federal, além do aumento dos ruídos e da degradação da qualidade de vida. As regiões administrativas precisam de investimentos em energias renováveis e sustentáveis”, afirma Ivanete Silva dos Santos, do Movimento Salve Arie JK e Rio Melchior.

O que é a UTE Brasília?

A Usina Termelétrica (UTE) Brasília é um projeto de 1.470 megawatts (MW), movida a gás fóssil, com chaminés mais altas que as torres do Congresso Nacional. A termelétrica deve ser instalada em parte da Fazenda Guariroba, em Samambaia Norte, a 35 quilômetros da Praça dos Três Poderes. Quase metade da área de 70 hectares é coberta por vegetação nativa do Cerrado, que será desmatada. Uma escola que atende 500 alunos da zona rural também deverá ser demolida.

A usina deve consumir 5,80 milhões de metros cúbicos (m³) de gás por dia, além de utilizar 110 mil litros de água por hora para o resfriamento da planta. Essa água será captada do Rio Melchior, classificado como “Classe 4” pela legislação ambiental, o pior nível na escala de qualidade. Os manifestantes temem que o projeto agrave ainda mais a crise hídrica no DF, que já sofre com escassez devido às mudanças climáticas e ao desmatamento crescente.

A previsão é a geração de apenas 80 empregos, enquanto os moradores das regiões administrativas de Samambaia Norte, Recanto das Emas, Ceilândia, Pôr do Sol e Sol Nascente temem impactos negativos na qualidade de vida e desvalorização da região. A área, localizada na periferia do DF, já sofre com a implantação de um lixão. “Esses projetos que degradam ainda mais as condições socioambientais sempre são destinados às regiões mais pobres e periféricas, evidenciando a desigualdade socioespacial no DF”, comenta Isabelle, do MAB.

Os interesses do “Rei do Gás” e o impacto na conta de luz

Para que a UTE Brasília entre em operação, são necessárias três obras: a construção da própria usina, sob responsabilidade da Termo Norte Brasília; a implantação do gasoduto Brasil Central, a cargo da Transportadora do Gasoduto Brasil Central (TGBC); e um ramal de distribuição, que será instalado pela CEBGás. As três empresas têm em comum Carlos Suarez, conhecido como “Rei do Gás” e um dos fundadores da empreiteira OAS.

O site ClimaInfo destaca que a audiência foi marcada justamente enquanto o Congresso analisa os vetos do presidente Lula a trechos da lei 15.097/2025, que trata do marco regulatório das eólicas offshore. Lula vetou dispositivos que favoreciam a contratação de termelétricas a gás e carvão. Entre os principais interessados estão o próprio Carlos Suarez e os irmãos Wesley e Joesley Batista, da JBS e da Âmbar Energia.

Além de mais poluentes, as termelétricas também encarecem a conta de luz. “Se os vetos forem derrubados, teremos um custo extra similar ao da bandeira vermelha 2, a mais cara do sistema tarifário, e por 25 anos consecutivos”, explica Alexandre Gaspari, do ClimaInfo.

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