Crise hídrica na Amazônia pode ser pior no ano de 2024

Além de comprometer o acesso à água, que já está escassa, seca extrema pode deixar comunidades do Rio Madeira isoladas, afetando o acesso à alimentos, medicamentos e o funcionamento de escolas


De acordo com prognóstico meteorológico apresentado por diversas instituições científicas do país, incluindo o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia – CENSIPAM (RO) e a Administração Oceânica e Atmosférica – NOAA/US,  o El Niño, que já foi classificado com grau de severidade bem alto em 2023, vai perdurar  até o final do primeiro trimestre de 2024. Ou seja, poderemos ter um cenário de crise hídrica pior do que este ano, pois a previsão de chuva está abaixo da média. 

Além disso, segundo cientistas americanos ligados ao NOAA, 2024 promete bater recorde de altas temperaturas, configurando uma seca ainda mais severa. De acordo com o gerente da CENSIPAM (RO), Caê Moura, a missão do órgão será a de cobrar providências que evitem ou minimizem os impactos sofridos pela falta de água pelas populações atingidas pelas mudanças climáticas. “Medidas precisam ser adotadas para que possamos  agir de forma coordenada até 2024 e fazer o enfrentamento dessa possível crise hídrica”, explicou Caê.

Diante deste cenário, Ocelio Muniz, integrante da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, em Porto Velho (RO), também faz um alerta para a necessidade de um planejamento dos governos estadual e municipal. “Neste ano, a gente percebeu que nem a administração municipal, nem a Defesa Civil tinham um plano de atendimento às comunidades na situação de emergência. Então, nós esperamos que, depois de uma seca grave, como a que estamos vivendo, a Prefeitura prepare um plano de contingência e tenha um orçamento adequado para o atendimento dessas comunidades no ano que vem”, explicou Ocelio.

Tem gente na Amazônia com sede 

Na última quinta, 19 a Prefeitura de Porto Velho decretou situação de emergência devido à redução histórica no nível do Rio Madeira e à possibilidade de isolamento das comunidades do baixo Madeira, que já sofrem com o desabastecimento de água potável. Segundo integrantes do MAB que visitaram a comunidade Brasileira, no começo de outubro, a água para beber está cada vez mais escassa, sem qualidade e contaminada na localidade, que fica às margens do que então já esteve cheio com as águas do Rio Madeira (RO).

A dinâmica de acesso à pouca água que está disponível em uma caixa d’água de uma escola municipal também é desafiadora. Os moradores têm direito a coletar toda a água que vão utilizar no dia a dia por apenas 30 minutos: desde o uso para a higiene básica até na alimentação.

Além disso, devido à atuação de grandes empreendimentos na região, populações atingidas relatam sobre a existência de poços contaminados por mineradoras e rios assoreados por conta de usinas que mantêm o seu funcionamento, apesar da seca histórica na Amazônia.

No último dia 02 de outubro a hidrelétrica de Santo Antônio, localizada no Rio Madeira, anunciou uma paralisação das atividades devido à seca, entretanto, a hidrelétrica de Jirau está ativa.

“Neste contexto, a aprovação da Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens – PNAB é importante, porque cria um marco regulatório que protege as comunidades, para que não sofram novas violações de direitos como essas que estamos vivenciando”, afirma Ocelio. 

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