MAB lança Campanha REVIDA MARIANA na Colômbia e dá voz aos atingidos no exterior

Campanha internacional tem como objetivo dar visibilidade à realidade dos atingidos que seguem, há oito anos, sem reparação pelos danos causados pelo maior crime ambiental da história do país

Lançamento da campanha “Revida Mariana” em Bogotá contou com a participação de 15 países do continente americano. Fotos: Francisco Proner

Vozes que não querem se calar: “Revida Mariana – justiça para limpar essa lama”. A campanha que visa dar visibilidade nacional e internacional à luta e à realidade de mais de um milhão de pessoas atingidas pela tragédia criminosa da Samarco, mineradora controlada pela Vale e BHP Billiton na Bacia do Rio Doce, chegou à Colômbia. Na noite de ontem, 20, a campanha assinada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB e mais de 100 instituições nacionais e internacionais foi lançada no I Encontro Internacional de Energias Comunitárias, em Bogotá, capital da Colômbia.

Entre os dias 18 a 20 de setembro, 400 pessoas de 15 países do continente americano se reuniram na Universidade Nacional da Colômbia para participar do encontro que colocou no centro dos debates a realidade de populações atingidas por barragens, mineração e outros grandes empreendimentos. “Foi um momento de muita troca de informações e experiências entre atingidos/as de diversos países, com suas vivências sociais, ambientais e financeiras trágicas, a exemplo dos crimes de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais”, afirma Letícia Oliveira, coordenadora do MAB que participou do encontro.

Atingidos do Rio Doce participam de lançamento em Bogotá

O lançamento da Campanha Revida Mariana em Bogotá teve a participação de atingidos/as da Bacia do Rio Doce, entre elas, moradores que foram arrancados do distrito de Bento Rodrigues pela lama da Samarco e de povos indígenas Krenak, que perderam tudo, inclusive, o Rio Doce, que alimentava suas comunidades. “Num mundo dividido em castas sociais, às vezes, a palavra justiça não existe da forma como deveria ser”, disse o cacique Maycon Krenak. Ainda sobre a questão da equidade, o líder denunciou a falta de equilíbrio no julgamento do processo. “Por uma questão monetária, quem tem muito é diferenciado daqueles que têm pouco. Nosso povo Krenak vem, há anos, pedindo justiça, não só pela ditadura que se estabeleceu em nosso território, mas pelo minério que as mineradoras despejaram em nosso rio.” A busca por justiça fora do Brasil, segundo ele, é importante, porque o governo brasileiro tenta um acordo com as mineradoras sem a participação dos atingidos na discussão. “Isso não é justiça. Estão vendo o lado das empresas e não dos atingidos.”

Letícia Oliveira explica que a campanha expõe a realidade das pessoas atingidas oito anos depois do rompimento da Barragem de Fundão. “Até agora ninguém foi responsabilizado. Buscamos compensação justa para essa gente que perdeu suas casas, seu trabalho e água de qualidade, uma vez que a lama contaminou todo o rio até o oceano. Com essa campanha, queremos pressionar a justiça e as instituições do Brasil e, também, da Inglaterra, onde está a sede da BPH Billiton, para que se resolvam esses problemas”.

Moradora de Bento Gonçalves, a atingida Mônica dos Santos fez um forte desabafo. “São oito anos de luta, mas o crime não acabou no dia 5 de novembro de 2015. Ele vem se renovando a cada dia, a cada ano.” Além de direitos sociais, financeiros e ambientais violados, ela contabilizou, na última semana de setembro, 55 mortes que teriam relação direta com o caos deixado pelo rastro de lama.

A impunidade e a incerteza sobre as respostas da Justiça foram citadas ao longo do encontro várias vezes. Neste contexto, a campanha Revida surge como uma resposta a essa insegurança dos atingidos. “É preciso que as pessoas saibam o que aconteceu e possam refletir daqui pra frente. Será que a gente precisa de uma mineração predatória, que destrói vidas, como aconteceu em Mariana, e depois se repetiu em Brumadinho?”, questionou Mônica.

Além do Brasil, as mineradoras Vale e a BHP, responsáveis pelo crime, mantêm diferentes operações no continente americano. São empreendimentos que, a exemplo do que acontece no Brasil, causam danos socioambientais imensos às populações atingidas. Enquanto a Vale atua no Canadá na exploração de potássio, a BHP detém, no Chile, o controle da Minerals Americas, líder mundial na produção de concentrado de cobre, zinco e carvão térmico com diferentes plantas em operação.

Sobre o Encontro

Organizado pelo Censat Água Viva, a Oficina de Gestión Ambiental de la Universidad Nacional de Colombia, as Comunidades Setaa – Movimiento Ríos Vivos, o Movimiento de Afectados por Represas – MAR e o Movimento dos Atingidos por Barragens MAB, o encontro teve com objetivo  promover debates, propostas e análises sobre a importância de uma transição energética justa com a participação da sociedade e também refletir sobre os impactos do atual modelo energético adotado em diferentes países das Américas. Nesse contexto, o encontro integrou as ações estruturantes da campanha “Revida Mariana – justiça para limpar essa lama”.

Além dos atingidos, estiveram presentes, na ocasião, representantes de algumas das entidades internacionais que apoiam a luta dos atingidos do Rio Doce e que assinaram o manifesto da campanha. O documento traz as diretrizes da jornada lançada pelo MAB no último dia 14 de setembro.

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