Light é a bola da vez e está à beira do abismo com dívida bilionária

Situação crítica da estatal privatizada no governo FHC remete ao debate da desestatização da Eletrobras, contestada por Lula. Carlos Alberto Sicupira, um dos maiores acionistas das Americanas, é também um dos principais sócios da elétrica do Rio

Privatizada em 1996 pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, Light corre risco de não conseguir garantir concessão. Foto: Divulgação

Depois da derrocada da Lojas Americanas, a Light – concessionária que fornece energia elétrica para 31 municípios do Rio de Janeiro, inclusive a capital – começa a semana como a bola da vez no noticiário de empresas à beira do abismo. O endividamento líquido da companhia é de R$ 8,7 bilhões e as informações são de que a dívida bruta chega a R$ 12,8 bilhões. Não passa despercebida a “coincidência” de que o empresário Carlos Alberto Sicupira, que também é acionista “referência” da gigante varejista, está entre os maiores acionistas da empresa de energia.

Sicupira é sócio do grupo 3G, em parceria com Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, os maiores acionistas da Americanas. Ronaldo Cezar Coelho, do Grupo Samambaia, é outro acionista de peso da Light. A empresa avisou a Agência Nacional de Energia Elétrica que não tem caixa para sustentar suas operações.

As desconfianças em torno da Light – que fornece energia para cerca de 5 milhões de usuários – começaram a ficar aparentes e, mais do que isso, indisfarçáveis, no final do mês passado. Foi quando veio a público que a companhia havia contratado a Laplace, especializada em reestruturação de empresas em dificuldade.

Com os graves problemas para rolar suas dívidas tornados públicos, os papéis LIGT3, na terça-feira, fecharam em queda de 14,19%, a apenas R$ 2,66. Já caíram mais de 40% em 2023. A situação da companhia é ainda mais complicada porque sua concessão vence em 2026, o que torna ainda mais difícil a rolagem da dívida para depois desse prazo.

Lula e Eletrobras

A crise da privatizada Light coincide com a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem (7), a respeito do processo de privatização da Eletrobras, tocada pelo governo de Jair Bolsonaro. Em encontro com jornalistas da imprensa alterativa, Lula classificou de “lesa-pátria” e “quase uma bandidagem”. O chefe de governo indicou que a Advocacia-Geral da União (AGU) deve estudar meios para “rever esse contrato leonino contra o governo”.

Isso porque, segundo Lula, o governo detém 40% das ações da companhia, Eletrobras, “e o governo só pode participar na direção como se tivesse 10%”. “Se amanhã o governo tiver interesse de comprar as ações, as ações para o governo valem três vezes mais do que o valor normal para outro candidato. Ou seja, foi feito quase que uma bandidagem para que o governo não volte a adquirir maioria”, disse.

Ele acrescentou que executivos da Eletrobras privatizada aumentaram os próprios salários de R$ 60 mil para R$ 360 mil. Disse ainda que um conselheiro recebe R$ 200 mil. “Isso é privatizar para quê?”, questionou.

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Light: situação complicada

A Light foi privatizada em 1996 pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Sua situação é delicada também pela geografia de suas operações. Apesar de ser uma das maiores distribuidoras de energia brasileiras, grande parte do território que atende fica em regiões dominadas por facções e milícias.

Evidentemente, nesse contexto, criminosos fazem ligações clandestinas – os chamados “gatos” – apropriando-se da energia gerada pela empresa para cobrar taxas dos moradores pelo fornecimento. Mas, em vez de desenvolver formas de controlar e conter o extravio, a empresa foi encarecendo o serviço, aprofundando a fuga dos consumidores. Com isso, baixa a arrecadação e aumentam ainda mais os investimentos necessários à atividade da concessionária, que não tem ido muito além de prestar manutenção e reparos na rede “oficial”, e já com dificuldades.

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