Organizações sociais denunciam impactos da UHE Baixo Iguaçu
Para moradores do sudoeste do Paraná, a construção da usina não promoveu o desenvolvimento prometido e aprofundou a desigualdade social e a concentração da riqueza na região
Publicado 03/06/2022 - Atualizado 03/06/2022
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) reuniu organizações do campo e da cidade na tarde de quinta-feira 02, em Realeza, no sudoeste do Paraná, para debater a situação dos municípios e famílias atingidas pela construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Baixo Iguaçu. De acordo com as lideranças, o empreendimento apenas transfere a riqueza gerada para outros países, sem compromisso com o desenvolvimento regional no território.
Dentre os temas debatidos na reunião, foi destacado o tema da Compensação Financeira pelo Uso dos Recursos Hídricos (CEFURH). Os dados apresentados demonstram que o Consórcio Empreendedor Baixo Iguaçu, responsável pela usina, repassou ao estado no ano de 2021 o valor estimado de 5,5 milhões. O montante é divido entre União (10%), estado do Paraná (25%) e municípios (65%).
Apesar do valor expressivo repassado ao poder público, a compensação ainda é desproporcional aos danos gerados e ao faturamento líquido obtido pelo empreendimento. Os municípios de Planalto e Nova Prata do Iguaçu, por exemplo, receberam 21 mil e 29 mil respectivamente no último ano, enquanto o rendimento da empresa foi de, aproximadamente, 330 milhões no mesmo período. O valor repassado, nesse caso, equivale a apenas cinco dias de geração de energia na UHE.
“Temos muita dificuldade de dialogar com a empresa. Algumas famílias ainda sofrem as consequências dos impactos da implantação da usina, como os produtores rurais que não conseguem acessar o lago da usina para o manejo do gado. Sem contar que muitos aspectos sociais não foram levados em conta, como as relações em comunidade”, declarou Sidinei Martini, atingido pela barragem.
As famílias da região alegam que os programas que deveriam atender a comunidade existem só no papel e nos relatórios para os governos. “A sensação que fica é de abandono. Muitas pessoas foram morar em outras regiões e consequentemente famílias se espalharam. Nesse sentido, a indenização não valeu a pena perante todos os transtornos”, completa o atingido.
Além do MAB, a reunião contou com a participação de representantes da FETRAF/PR e da Assessoar, da Gisselda Sauer, vereadora de Planalto, de Claudemir Chaves, vereador de Realeza, e da deputada estadual Luciana Rafagnin (PT/PR).
Os participantes denunciaram também a falta se sensibilidade dos atuais governos federal e estadual frente à situação. Para Luciana, “além da empresa, é necessário atribuir ao Governo do Estado e à Copel a sua parcela de responsabilidade. Precisamos cobrar essa conta”.
As lideranças presentes na reunião assumiram o compromisso de construir uma proposta de Programa de Recuperação e Desenvolvimento da região impactada pela UHE Baixo Iguaçu e discutiram a realização de uma audiência pública para debater a situação.