Em Colatina (ES), comunidades perdem suas casas e plantações por conta de alagamentos do Rio Doce
O assoreamento do Rio Doce, provocado pelo rompimento da barragem da Samarco há seis anos, potencializa o problema das enchentes que levam rejeitos de minério para a casa de milhares de moradores da Bacia
Publicado 14/01/2022 - Atualizado 14/01/2022
Oitenta pessoas ficaram desalojadas no município de Colatina, noroeste do Espírito Santo, por conta das fortes chuvas que atingiram a região, causando a elevação de dois metros no nível de inundação do Rio Doce. O alagamento já começa a atingir o centro, além da parte baixa da cidade, onde as famílias tentam salvar seus pertences. Os rejeitos de minério que se espalham com a enchente também aumentaram o nível de turbidez do rio, que é a principal fonte de água do município.
Ao todo, o Espírito Santo tem 272 desalojados e 180 desabrigados. De acordo com Elísio Cuzzuol, uma das lideranças comunitárias de Maria Ortiz, povoado de Colatina, todos os moradores das partes mais baixas do município estão tentando se deslocar, procurando vizinhos e amigos para conseguirem abrigo, pois suas casas estão alagadas e seus móveis e eletrodomésticos encharcados. “Além disso, a ponte que dá acesso à comunidade está submersa, sem condição de trânsito. Quem não se arrisca a pular a linha do trem, precisa andar 6 km por uma estrada de chão que está com muita lama e buracos. A comunidade está largada à própria sorte”, desabafa.
Cerca de 20 famílias de pequenos agricultores da comunidade de Maria das Graças também estão sofrendo com a cheia do rio. O produtor rural Hermolau Gatti Filho conta que sua família perdeu seus equipamentos de irrigação e 100% do seu plantio de hortaliças que foi inundado. “Além do prejuízo econômico, fica também a preocupação com os rejeitos de minério que estão descendo junto com a água, que podem causar problemas de saúde para toda a família. Essa situação se repete há seis anos sem nenhuma solução por parte do poder público”, conta.
Alcino Correia Filho, pescador e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), conta que os moradores das ilhas localizadas no meio do rio sofrem com o mesmo problema. “Meu cunhado, que mora com a família na ilha em frente ao bairro Colúmbia, teve sua casa destruída, assim como outros ribeirinhos. E não é somente água que está descendo, está descendo também muito rejeito de minério junto”.
A situação se repete em outros municípios do estado como Linhares, que tem 12 famílias desalojadas e muitas comunidades ilhadas, com acesso apenas por barcos ou helicópteros.
De acordo com a coordenadora do MAB, Márcia Maria Almeida, o lançamento de cerca de 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos da mineração no Rio Doce – por conta do rompimento da barragem da Samarco (Vale/BHP Billiton) em 2015 – causou o seu assoreamento e fez com que as enchentes se tornassem mais frequentes na região.
“Por isso, o Movimento está cobrando do governo estadual a participação dos atingidos na mesa de negociações do plano de repactuação do Rio Doce para impedir que esse tipo de violação siga acontecendo de forma recorrente”, afirma a coordenadora.