A juventude militante de Igor Meirelles
Belo Monte conseguiu estancar o outrora poderoso Xingu e mudou o curso da vida de cerca de 50 mil pessoas que hoje tentam reescrever suas histórias, distantes do rio e das suas referências. O coordenador do MAB, Igor Meirelles, é uma delas. Ele fez da luta coletiva contra as injustiças desse empreendimento um dos propósitos da sua juventude.
Publicado 13/09/2021 - Atualizado 05/08/2024
Quando Igor Meirelles, morador de Altamira (PA), ficou sabendo que seria atingido pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte, uma das maiores do mundo, ele não fazia ideia de como sua vida iria mudar e o quanto ele precisaria lutar pra ter seus direitos básicos garantidos.
Durante a construção da mega-hidrelétrica, muito se falou dos danos que seriam causados ao meio ambiente, ao Rio Xingu e aos povos indígenas e tradicionais que viviam às suas margens. Pouco, porém, se debateu sobre a situação dos moradores da área urbana de Altamira, que tiveram seu cotidiano drasticamente transformado pelo empreendimento. Desde o início das obras, os moradores passaram a conviver com a violência, o medo e a deterioração dos serviços públicos por conta do crescimento explosivo da pequena cidade amazônica.
“Para um jovem, o que acho que é agravante quando você é reassentado é que você está em processo de formação. Eu vivia em uma área periférica, mas que tinha acesso muito fácil ao rio, ao centro urbano, aos espaços de cultura, aos espaços de diversão. Aí a empresa vem e te realoca pra um lugar onde você fica isolado e encara a violência, a precarização de vida.”
Segundo Igor, quando conheceu o Movimento dos Atingidos por Barragens, ele entendeu só a luta coletiva poderia ajudar a sua família e sua comunidade a ter fazer o enfrentamento de todas as injustiças que a Usina trazia para sua cidade. “Antes do Movimento, eu já tinha um pensamento crítico, um olhar pra contradição, muito por conta da música, porque eu curtia e ainda curto o rap, que mostra o quanto nós, público preto, o quanto a gente sofre e o que se passa nas áreas periféricas do Brasil. Aí o MAB veio me capacitar melhor sobre como me posicionar frente a essas contradições”.
*Esse artigo faz parte de uma série de perfis de coordenadores do MAB produzidos em celebração aos 30 anos do Movimento.