Do orgulho aos desafios: 28 de junho e a luta LGBT no Brasil

De acordo com a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA), o Brasil ocupa o 1º lugar nas Américas em homicídios contra pessoas LGBTs.

Dia 28 de junho é uma data simbólica para a luta por direitos LGBT em todo o mundo. Neste dia, no ano de 1969, frequentadores do bar Stonewall Inn, em Nova Iorque, nos EUA, iniciaram uma manifestação que durou seis dias com protestos contra as batidas e revistas policiais em bares da comunidade LGBT. Aliada à onda de manifestações contra a Guerra do Vietnã e por direitos civis, a mobilização confrontou a repressão e deu origem ao Dia da Libertação Gay, em 1970, conhecida como a primeira Parada do Orgulho LGBT da história.

No Brasil da atualidade, manter viva esta data se faz cada vez mais necessário, tendo em vista a pandemia do novo coronavírus e o governo neofascista a frente do país, que ataca em cheio as pessoas LGBTs, as quais sofrem com a violência, o desemprego e a precariedade da saúde. No que se refere à violência, de acordo com o relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA), o Brasil ocupa o 1º lugar nas Américas em homicídios contra pessoas LGBTs e é lider em assassinatos de pessoas trans no mundo, sendo o país com os maiores indices de discriminação. 

Quanto à questão do trabalho, vale lembrar que o desemprego já se aproxima de 15% da população brasileira, atingindo frontalmente as pessoas LGBTs. A Aliança Nacional LGBTI estima que o desemprego possa chegar a 40% na comunidade LGBTI e a 70% quando focamos na população trans. A gravidade desses dados escancara a disparidade de oportunidades de acesso ao emprego no Brasil e nos preocupa por afetar diretamente a independência e autonomia dessas trabalhadoras e trabalhadores. Se olharmos para as questões pertinentes à saúde, os dados também são preocupantes, especialmente os que são relacionados à depressão, mudança de humor, ansiedade e etc.

Acreditamos que a luta por igualdade LGBT só será possível com a construção de uma sociedade com novos princípios e com o poder nas mãos das massas trabalhadoras, através de um processo que ataque pela raiz a todas as formas de exploração e opressão atuais. Compreendemos que a luta pelos direitos da comunidade LGBT, assim como a extinção dos preconceitos e as discriminações contra qualquer pessoa, deve estar centralmente ligada à luta da classe trabalhadora contra o jugo dos capitalistas, que é sustentada por uma estrutura patriarcal e racista.

Neste sentido, apontamos o desafio de compreender como age o patriarcado na sociedade, que também nos inferioriza e nos oprime nas diversas relações, sejam elas privadas ou públicas e nos propomos a ser sujeitos na construção da nova sociedade e na libertação humana das relações capitalistas, patriarcais, racistas, sexistas e heterocentradas.

Um projeto revolucionário só se constrói com a ampla participação de todos os sujeitos revolucionários da classe trabalhadora, contemplados nas suas mais diversas dimensões, incluindo suas subjetividades, manifestações de afeto, expressões de diversidades e sexualidades. Apontamos o método marxista de compreensão das relações sociais como guia para a ação prática da luta, a organização popular como exercício da construção de uma nova sociedade e a construção de força organizada para realizar as mudanças necessárias.

A nossa luta pela libertação LGBT deve partir da compreensão de que a luta contra o capitalismo e pela sociedade socialista não tem dono, pois é de quem tem disposição para fazer, com ousadia, organização e convicção. Não acreditamos que deva haver distinção entre a luta de classes e a LGBT, pois, na prática, esta visão só contribui para nos fragmentar rumo ao objetivo da libertação total e em todos os aspectos das amarras capitalistas, racistas e patriarcais. 

No Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), firmamos nossa identidade LGBT, atingida por barragem e pertencente à imensa e diversa classe trabalhadora. Seguimos com o desafio de avançar na formulação da pauta dos direitos das populações LGBTs atingidas por barragens, na formação teórica, na identificação das violações sofridas em cada local de atuação e na luta contra todas as injustiças cometidas em qualquer parte do mundo. Neste rumo, em 2021 e 2022 estaremos realizando nossa Formação Nacional do Coletivo LGBT, construído pela militância LGBT atingida de todo o Brasil, que inicia hoje.

No plano a curto prazo, temos a tarefa de lutar contra o governo neofascista de Bolsonaro, que já vitimou mais de 500 mil brasileiras e brasileiros. Participar, construir e animar as mobilizações é nossa tarefa nesse momento histórico, assim como avançar na construção de um projeto possível para o Brasil, onde o respeito às diferentes expressões e a garantia da dignidade humana e LGBT devem fazer parte desta construção. Seguimos, com ousadia, luta e com a alegria que é típica da nossa resistência.

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