Retrospectiva | Vitórias populares em países da América Latina reacendem esperança no Brasil
Saiba mais sobre as lutas políticas travadas pelo povo latino durante o ano:
Publicado 28/12/2020 - Atualizado 21/08/2024
O ano de 2020, dominado por notícias trágicas, trouxe algumas boas novidades na política latinoamericana que reacenderam a esperança dos que acreditam num mundo mais justo e solidário.
As experiências de transformação que resistem como Venezuela e Cuba, e a chegada de um projeto nacional e popular ao governo da Argentina, se somam à retomada da democracia na Bolívia e a derrota da Constituição da ditadura no Chile.
Enterrando Pinochet
No mês de outubro, o povo chileno confirmou nas urnas o que já tinha afirmado nas ruas: o Chile quer uma nova Constituição. Após massivos protestos que tomaram as ruas do país em outubro de 2019, foi realizado um plebiscito popular para aprovar ou rejeitar a elaboração de um novo texto constitucional, que substitua o atual, escrito em 1980 pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Nele, mais de 78% dos votantes aprovaram a elaboração de um novo conjunto de diretrizes para o país.
Víctor Bahamonde, do MODATIMA (Movimiento por la Defensa del Agua, la Tierra y la Protección del Medioambiente) do Chile, que integra o MAR (Movimiento de Afectados por Represas en América Latina) afirmou, em entrevista com o MAB, que na prática “a mensagem é de cansaço de 30 anos do modelo neoliberal e de uma democracia elitista, que privilegia fundamentalmente os que se acomodam no poder com privilégios e prejudicam as grandes maiorias”.
“A mensagem é de cansaço de 30 anos do modelo neoliberal e de uma democracia elitista, que privilegia fundamentalmente os que se acomodam no poder com privilégios e prejudicam as grandes maiorias”, diz o militante chileno Víctor Bahamonde.
O novo texto será elaborado por 155 representantes escolhidos pelo voto popular de forma paritária, em uma eleição programada para abril de 2021. Para Bahamonde, o grande desafio das forças progressistas e do povo organizado é a unidade.
“Os que entrarem na Constituinte terão que ser soldados romanos, já que a direita não vai deixar passar nada. O que eles têm defendido é a propriedade, ou seja, que tudo o que já foi entregue, não seja tocado. Estamos falando da terra, da água, dos minerais e do mar”, afirma.
O poder da organização popular
Após o golpe contra o ex-presidente Evo Morales, em novembro do ano passado, instalou-se na Bolívia um governo autoritário de extrema direita, que reprimiu e perseguiu opositores políticos, com grande viés militar, comandado por Janine Añéz. Mas a festa dos golpistas durou pouco. Na eleição realizada em outubro deste ano, o povo boliviano demonstrou claramente nas urnas de que lado está.
O candidato do MAS (Movimiento al Socialismo) Luis Arce, ministro de Economía durante 12 anos do governo Morales, com seu vice-presidente Davi Choquehuanca, obteve mais de 55% dos votos, conquistando ampla maioria e vencendo no primeiro turno.
A arrasadora vitória do MAS demonstra que a suposta fraude eleitoral foi uma desculpa, patrocinada pela direita boliviana com apoio de interesses imperialistas e papel central da OEA (Organização dos Estados Americanos), para interromper o processo popular.
Após Arce tomar posse, Evo Morales, exilado na Argentina, voltou à Bolívia em uma caravana que começou com um encontro com o presidente argentino Alberto Fernández e terminou com Evo nos braços do povo em seu país. O mesmo povo que fez a Guerra da Água, lutou pela soberania sobre os hidrocarbonetos e o gás e deu a vida para resistir ao golpe.
A vitória dos povos dos nossos países vizinhos é também uma vitória dos lutadores e lutadoras de toda América Latina, e reacende a esperança para que ventos melhores também soprem na política brasileira.