Em meio a pandemia, Vale anuncia corte de auxílio dos atingidos no rio Doce

Em carta aos beneficiados, Fundação Renova alega que a manutenção do pagamento “não se justifica”; atingidos do Espírito Santo estão revoltados com a medida da empresa

Nesta semana, atingidos pelo crime da Vale na bacia do Rio Doce (com o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana) receberam, por carta, a notícia de que o auxílio financeiro emergencial será cortado e realizaram manifestações no Espírito Santo e em Minas Gerais.

Na última quarta-feira (1), houve ocupação da linha do trem em Mascarenhas, divisa de Baixo Guandu e Colatina e na quinta-feira (2), em Maria Ortiz, em Colatina.

Apesar da liminar de desocupação chegar em nome do movimento, o MAB informa que não planejou ou participou da ocupação, que foi espontânea, a partir da grande revolta gerada com o anúncio do fim do pagamento.

A Fundação Renova, criada pelas empresas sócias da Samarco e corresponsáveis pelo dano socioambiental e econômico causado na região, alega que a manutenção do auxílio “não se justifica”, e diz estar amparada em estudos que atestam que o ambiente contaminado pelo crime já retornou às condições anteriores e que, portanto, não haveria impedimento para o exercício de nenhuma atividade, como, por exemplo, a pesca.

Para parte das famílias, este é o único rendimento da casa, já que os atingidos da região seguem impedidos de exercer suas atividades diretamente ligadas ao Rio Doce, ao contrário do que alega a Renova, que diz se basear em um estudo que até então não veio ao conhecimento público.

Basta circular pela região para perceber que a contaminação só aumenta, como o último período chuvoso demonstrou. Atividades como a pesca, mesmo onde é permitida, ainda encontram a barreira da desconfiança do consumidor. Além disso, a Renova continua deslegitimando o território do litoral como atingido, mesmo os rejeitos tendo sido espalhados pelo mar capixaba.

Cabe às instituições públicas, de justiça, organizações da sociedade civil do Espírito Santo e Minas Gerais se manifestarem contra essa proposta de “minimizar” o dano causado após cinco anos do crime sem reparação justa aos atingidos.

Mais do que apenas cortar o auxílio emergencial – que manteve a subsistência das famílias neste período – a minimização dos danos distribui por toda a sociedade o prejuízo causado pelas mineradoras, com aumento dos problemas de saúde, demanda por assistência social e os óbvios e graves prejuízos ambientais já comprovados por inúmeras pesquisas.

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