Famílias da região do rio Pardo temem mineroduto da SAM

Mineroduto será o segundo maior do Brasil e ameaça 21 municípios entre MG e BA

Foto: Agora Rio Pardo

O projeto Bloco 8 da mineradora SAM – Sul Americana de Metais S/A, será instalado no distrito Vale das Cancelas, em Grão Mogol/MG, e será o maior complexo minerário do Brasil. Para o escoamento de todo esse minério, será construído um mineroduto que terá 482 km de extensão, o segundo maior do Brasil, atrás apenas do mineroduto Minas-Rio da Anglo American, com 529 km. 

O projeto do mineroduto passa por 21 municípios, sendo nove deles em Minas Gerais – Grão Mogol, Padre Carvalho, Fruta de Leite, Novo Horizonte, Salinas, Taiobeiras, Curral de Dentro, Berizal e Águas Vermelhas – e doze na Bahia – Encruzilhada, Cândido Sales, Vitória da Conquista, Ribeirão do Largo, Itambé, Itapetinga, Itaju do Colônia, Itapé, Ibicaraí, Itabuna, Barro Preto e Ilhéus – até o Porto Sul.

Atualmente a construção está sob responsabilidade da empresa Lótus Brasil Comércio e Logística Ltda, que se apresenta como uma empresa independente, mas que tem entre seus principais sócios a SAM.

Mapa do traçado com base nas coordenadas do projeto Vale do rio Pardo, a Lotus não apresentou seu novo projeto. Mapa: Felipe Soares / MAB

Entre os 21 municípios que serão afetados pelo mineroduto, está a comunidade rural Rio das Antas, no município de Salinas. De acordo com os moradores da comunidade, a passagem da tubulação na região traz receio para a população.  

Gentil Durães é morador da comunidade e coordenador do grupo dos atingidos, e conta que “a tubulação será construída dentro de algumas propriedades dos moradores, onde a maioria retira o sustento com agricultura familiar e pequenas produções comercializadas nas feiras locais”. A maioria das propriedades tem uma pequena área de extensão.

Segundo o Estudo de Impacto Ambiental – EIA do projeto Vale do Rio Pardo,  a faixa do mineroduto tem 30 metros de comprimento. De acordo com o mesmo estudo, a maioria das propriedades não tem essa extensão, acarretando na perda de terras da maioria dos proprietários. Gentil afirma que “a comunidade é contra a construção do mineroduto. A empresa responsável por ele não mantém nenhum diálogo com os moradores e não garante a participação popular no projeto. Ela fez algumas visitas à região mas sem contato com a população” denunciou. 

Mineroduto

Inicialmente, quando ainda era o Projeto Vale do Rio Pardo, o mineroduto era vinculado ao complexo minerário, mas foi arquivado pelo IBAMA que o considerou ambientalmente inviável. Em 2017 o projeto foi reformulado e o mineroduto desvinculado, seguindo para o projeto Bloco 8. No atual traçado ele passará pelo principal rio da região, rio Pardo, em três pontos. 

De acordo com o EIA, o possível rompimento de uma das tubulações alteraria toda a bacia hidrográfica do rio, dentre outros impactos como a alteração das propriedades físicas do solo; indução e intensificação de processos erosivos e movimentos de massa; assoreamento dos cursos d’água; alteração da dinâmica hídrica superficial; alteração das propriedades químicas do solo; alteração na qualidade das águas superficiais; alteração na qualidade das águas subterrâneas; alteração dos níveis de ruído; alteração da qualidade do ar; alteração dos usos do solo; e a alteração da paisagem. 

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) luta desde o começo da sua história contra empreendimentos hidrográficos, minerais ou energéticos que interfiram diretamente nos modos de vida da população em seu território. O projeto do mineroduto da SAM é na verdade um projeto de despejo, perda de renda, morte do rio e danos ambientais.

O MAB afirma que desde a construção do projeto no papel o povo não tem participação efetiva, durante a construção os atingidos só poderam esperar a violação dos seus direitos. A população sob a ameaça da construção desse projeto já é uma população atingida. 


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