Nota de pesar pelo falecimento de José Carlos Arara
O Xingu e os povos do Xingu lagrimam pela partida precoce do Cacique José Carlos Ferreira, da aldeia Guary Duan, na Terra Indígena Arara Volta Grande, vitima fatal da Covid-19. Nós, Movimentos Sociais e Igreja, nos solidarizamos aos parentes e familiares diante de tamanha dor e luto.
Publicado 11/06/2020
CHORO, CLAMOR DA TERRA E DOS POVOS…
Me leva XINGU
Me arrasta em “terras caída”
Crescer é rima da vida
Cresço em rajadas de amor
(adaptação poema de Ruy Barata)
O Xingu e os povos do Xingu lagrimam pela partida precoce do Cacique José Carlos Ferreira, da aldeia Guary Duan, na Terra Indígena Arara Volta Grande, vitima fatal da Covid-19. Nós, Movimentos Sociais e Igreja, nos solidarizamos aos parentes e familiares diante de tamanha dor e luto. A Amazônia Centro do Mundo chora a dor e clama por mais assistência e atitudes concretas de prevenção, proteção e tratamento aos povos indígenas e tradicionais da Amazônia diante dessa pandemia.
Zé Carlos Arara, como era chamado entre nós, foi um importante guerreiro e liderança indígena na luta de enfrentamento a construção da UHE Belo Monte, amava e lutava com todas as forças na defesa da Volta Grande do Xingu e na garantia dos direitos dos Povo Arara e demais povos indígenas e povos tradicionais da região, deixa um legado de resistência, coragem, bravura e sabedoria aos povos do Xingu.
Um guerreiro que dia a dia reuniu o seu povo e articulou lutas em parceria com várias outras lideranças na defesa da Volta Grande do Xingu. Na época da luta contra a construção de Belo Monte foi na aldeia Terra Wangã, como cacique, realizou um encontro entre lideranças do Xingu e diversos aliados nacionais e internacionais na luta para manter vivo o rio Xingu junto somaram forças ISA, Gota d’água, Movimento Xingu vivo para Sempre, Movimento dos Atingidos por Barragens, CIMI, Amazon Watch, cacique Raoni e outros…
Nas ultimas semanas estava muito preocupado com o fluxo e andanças de garimpeiros ilegais e avanço de áreas desmatadas nas vilas próximas e na própria Terra Indígena. Chegou a endereçar carta ao Ministério Publico Federal, solicitando apoio na articulação para conter esse trânsito de garimpeiros ilegais. Sua luta não será em vão!!!
Mas , esse grande guerreiro com dificuldade de respirar foi locomovido de sua aldeia na segunda feira dia 8 , para receber tratamento em Altamira. Após buscar exame na rede privada, seu estado de saúde se agravou e teve que ser internado no hospital Geral de Altamira São Rafael, já com bastante falta de ar, tosse forte e muita dor de cabeça. Sem vagas disponíveis na UTI do Hospital Regional da Transamazônica, não conseguiu ser transferido e faleceu por volta das 10h do dia 9 de junho de 2020 aos 41 anos de idade.
Perdemos um guerreiro indígena, por falta de leitos de UTIs, falta de assistência. E de um plano base de ação para enfrentamento e combate ao COVID -19 aos povos indígenas. Quantos precisarão vim a tombar como o fenômeno “ Terra caída” para que providências sejam tomadas?
Aqui fica nossa indignação, dor, mas também nossa solidariedade a Zé Carlos e sua Família e acima de tudo o nosso compromisso de continuarmos por Zé Carlos a luta na defesa da vida dos povos da Volta Grande do Xingu.
Movimentos da Amazônia Centro do Mundo