Enquanto o Brasil sofre com a pandemia, Bolsonaro destrói a Amazônia

Desmatamento é ainda mais acelerado este ano e servidores da área de fiscalização do IBAMA são exonerados

O aumento exponencial do desmatamento da Amazônia é um dos reflexos das políticas genocidas do atual governo. No primeiro ano de Bolsonaro na presidência, os efeitos de seu discurso já se fizeram sentir. Em 2019, foram desmatados 976,2 mil hectares da floresta amazônica, apresentando um crescimento de 30% comparado ao mesmo período anterior.

Ainda no ano passado, o governo desarticulou o Fundo Amazônia, um dos principais instrumentos financeiros que viabilizaram as ações para a redução do desmatamento no período de 2008 a 2018.

O governo federal também autorizou cerca de 500 novos tipos de agrotóxicos, revogou o decreto que proibia o cultivo de cana de açúcar na Amazônia além de desestruturar órgãos como o Instituto Chico Mendes (ICMBio), Fundação Nacional do índio (FUNAI) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais  Renováveis (IBAMA). Para “mostrar vontade de trabalhar” para o presidente, fazendeiros da região organizaram o “Dia do fogo” e imagens da floresta ardendo em chamas estamparam as páginas de centenas de veículos ao redor do mundo.

Diante da destruição da Amazônia, o governo brasileiro foi denunciado internacionalmente. Os movimentos populares da região também reagiram e organizaram uma série de encontros. Podemos citar como exemplo o Encontro “Amazônia Centro Mundo”, em Altamira (PA), que reuniu atingidos por Belo Monte, cientistas e diversas lideranças indígenas, como o Raoni Metukitire. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) também realizou seu “Encontro dos Atingidos da Amazônia”, reunindo lideranças dos nove estados da região em Belém (PA).

Chegamos ao ano de 2020 e no mundo todo explode a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Enquanto alguns países tomam medidas sensatas no combate a esse vírus perigoso, o governo brasileiro insiste em não determinar ações necessárias para o isolamento social em massa, mesmo sendo essa a única forma, segundo os especialistas, para desacelerar o avanço da Covid-19.

O Brasil é atualmente um dos países em que a situação está mais crítica, já superando a China em número de mortes. Diante desse cenário caótico, o presidente da república tenta polarizar discutindo com governadores, prefeitos e agora com os ex-ministros Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta. Também tem dado declarações polêmicas que, embora causem revolta em muitas pessoas sensatas, parece agradar seus seguidores cada vez mais radicalizados. Enquanto isso, silenciosamente, Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles vão avançando nas políticas que incentivam o desmatamento na Amazônia.

Destruição da floresta em ritmo acelerado

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre janeiro a março de 2020 a Amazônia brasileira já perdeu 79.606 hectares, um aumento extraordinário de 51,45% comparado ao desmatamento no mesmo período do ano passado. Ou seja, a destruição da Floresta em plena crise climática, que tanto chocou o mundo do ano passado, continua – e mais acelerada.

O município de Altamira no Pará já lidera novamente o índice de desmatamento com uma perda de 8.986 hectares da cobertura vegetal. Esse município já é gravemente atingido pela Hidrelétrica de Belo Monte, com o aumento da violência, surto de suicídios entre os jovens e o grande empobrecimento da população atingida, chegando a ter 34 mil pessoas vivendo com apenas R$89/mês no município, segundo dados do Ministério de Desenvolvimento Social.

Altamira e municípios vizinhos como São Felíx do Xingu, Senador José Porfírio e Novo Progresso, todos no Pará, estão entre os municípios com maior perda de cobertura vegetal nos últimos anos. Uma das grandes preocupações é que nesses municípios estão unidades de conservação e Terras Indígenas (TI) como a TI Ituna-Itatá, que último período recebeu diversas operações dos órgãos ambientais para realizar a desintrusão (retirada da população não indígena) e impedir o avanço do garimpo ilegal, grilagem de terras e o desmatamento.

Servidores do IBAMA são exonerados por fazerem seu trabalho

Nos dias 12 e 19 de abril deste ano, o Fantástico publicou duas reportagens mostrando a ação de fiscalização do IBAMA na região sul e sudeste do Pará. Na ação, o IBAMA demonstrava preocupação com o possível avanço do covid-19 entre os indígenas isolados da TI Ituna-Itatá. A reportagem do dia 19 identificou o esquema criminoso de “doações” de terras dentro da terra indígena, cujo epicentro é a vila Mocotó, localizada no município de Senador José Porfírio.

Em janeiro, o IBAMA realizou uma operação na vila Mocotó para apreender cinco mil litros de combustível que seriam usados para a logística do desmatamento na TI Ituna-Itatá. Essa ação causou uma grande repercussão na região do Xingu. Um dos moradores entrevistados pelo Fantástico afirmou que área da vila fora doada por uma pessoa identificada como Jassônio Costa Leite. Um outro morador entrevistado disse que, logo que as pessoas foram morar na vila, “veio uma equipe na vila Mocotó e acho que foi transferido aí quase dois mil títulos de eleitor”.

A reportagem mostrou que Jassônio é morador do estado de Tocantins e tem muita articulação política, chegando a participar de reuniões no gabinete do senador do Pará Zequinha Marinho (PSC) em Brasília. Ele também é mostrado conversando na porta do planalto com o Presidente da República Jair Bolsonaro. Nas duas oportunidades, ele cobra que o governo federal pare com as fiscalizações na região próxima à TI Ituna-Itatá.

O pedido de Jassônio foi atendido. Após a reportagem do Fantástico ser exibida, Ricardo Salles e Bolsonaro exoneraram (expulsaram) o diretor de proteção ambiental, Olivaldi Azevedo, e na calada da noite de ontem (29/04) a dupla exonerou o coordenador de operações de fiscalizações do IBAMA, Hugo Loss.

Enquanto o presidente da República desvia a opinião pública, Salles continua com o projeto genocida de destruição da Amazônia, demitindo e sufocando os servidores do IBAMA e ICMBio, bem como dando carta branca para os latifundiários continuarem grilando as terras e financiando campanhas eleitorais.

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