10 meses do crime da Vale, 10 meses sem nossas jóias

10 meses longos lentos e tristes. As flores não são tão vivas A primavera não traz tanta alegria A casa ficou mais vazia O verão continua quente Mas o coração […]

10 meses longos lentos e tristes.

As flores não são tão vivas

A primavera não traz tanta alegria

A casa ficou mais vazia

O verão continua quente

Mas o coração vai esfriando

As roupas e os perfumes estão sobre o criado

Mas o corpo que as ornava não está aqui

Vem o tempo, rompem os sinos

Soam as sirenes….

 

O tempo tudo apaga menos do coração do neto as lembranças da avó amada.

Dona Criola e fé e oração, mas também é sermão. Dona Criola tem mão macia, tem cheiro de pitanga, tem memória da cozinha. Dona Criola é toda uma história de luta e vitória. E mãe e avó, as vezes acompanhada as vezes só, e das mais jovens e lindas avós. Dona Criola não é ganância, é sabedoria e elegância. Que saudades dos seus cheiros, dos teus temperos, e também daqueles conselhos.

É pedra preciosa, é ouro no cascalho. É minha vovó amada que por ela choro.

Que saudades tenho do tempo de criança pois quando chovia no seu colo escondia. Hoje sou adulto e as tempestades da vida não me deixaram meu refúgio.

O lucro da Vale não me permitiu dar a você o melhor da vida, ou a vida que a senhora merecia. Soterrou nossos sonhos e nossas alegrias num mar de lama que começou na nossa casa e se estende por todas as famílias. Às vezes penso, tento entender porque logo com você isso foi acontecer. Mas lembro que para essa empresa você era só mais uma, não era um ser único e especial. era um número para ser engolido no ápice da ganância.

Onde estiver, eu vivo em você e você vive em mim. Sei que está bem pois aí não há dor, não há corpo dilacerado. Está aí com a Cristina nossa amiga, Jussara minha tia, com certeza as três fazendo uma festa, reunindo os amigos. Dona Cleo, Sr Márcio, Marcinho, Robinho, Heitor, Reinaldo, Laís, Pamela, nossa querida Sirlei, Dirce, Marina, Rodrigo, Adail, entre tantos outros amigos. Tenho certeza que a senhora olha por nós. Vá em paz, logo estaremos aí juntos.

“E de mãos dadas, vamos juntos pelas estradas”

 

Texto: Jefferson Custódio- Atingido pelo crime da Vale, morador do Córrego do Feijão


Jefferson e a avó Dona Criola

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