“Eu fui um sobrevivente”, afirma morador de Macacos

Jayme Gomes dos Santos ficou soterrado pela lama da barragem que se rompeu em 2001 e matou cinco pessoas no distrito do município de Nova Lima (MG); atualmente, moradores relatam […]

Jayme Gomes dos Santos ficou soterrado pela lama da barragem que se rompeu em 2001 e matou cinco pessoas no distrito do município de Nova Lima (MG); atualmente, moradores relatam desconfiança com a segurança de cinco barragens localizadas próximas à comunidade

por Guilherme Weimann e Pedro Muniz, do MAB

Fotos: Guilherme Weimann

Os rompimentos das barragens de rejeitos localizadas nos municípios mineiros de Mariana e Brumadinho não foram os primeiros a ocorrerem no Brasil. Nos últimos anos, o que se verifica é uma recorrência desses incidentes.

Um desses exemplos aconteceu há pouco menos de 18 anos, no distrito de São Sebastião das Águas Claras, popularmente conhecido como Macacos, e pertencente ao município de Nova Lima (MG). No dia 22 de junho de 2001, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Rio Verde, posteriormente comprada pela Vale, que causou a morte de cinco pessoas e a destruição de 80 hectares da Mata Atlântica.

Jayme Gomes dos Santos, atualmente com 74 anos, trabalhava nesse período em uma empresa chamada Itacolomi Serviços, que prestava serviços à Rio Verde. “Eu fui um sobrevivente da barragem. Eu travalhava como mestre de obras nessa época. No momento, eu tava dentro de um caminhão quando bateu uma explosão. Eu não sei precisar se passei 40 minutos ou 40 segundos embaixo da terra, que ultrapassou 2 metros o teto do caminhão. Eu arrebentei o vidro, quase sem conseguir respirar mais. E aí eu consegui sair pra fora”, recorda.

Outras cinco pessoas não tiveram a mesma sorte que Jayme. “Eu conhecia todos os cinco. O Homero era um daqueles que tudo que ele falava a gente achava graça, era brincalhão. E no mês seguinte ele ia aposentar. Eu bati um papo com ele uns dois minutos antes que a barragem se rompeu”, lamenta.

De acordo com o comerciante, apenas três dos cinco corpos foram encontrados. “Acharam três e dois estão até hoje desaparecidos. As famílias recebem a pensão, mas não foram indenizadas porque não acharam os cadáveres. Já se passaram 18 anos e até agora não foram ressarcidas”, afirma Jayme.

E não foram apenas essas famílias que ficaram sem indenização. O próprio Jayme também não recebeu nenhuma compensação financeira da empresa. “Hoje eu sou aposentado. Não recebo mal, mas também não recebo bem. Mas não tive nenhuma ajuda da empresa, na época eu não fui atrás”, relata.

Apesar disso, Jayme conta que convive até hoje com o trauma psicológico, que o impede de passar perto do local onde ocorreu o incidente. “Quando eu vou pra Belo Horizonte eu não passo por perto, vou por Nova Lima, porque me dá aquele trauma daquele momento que eu vivi ali, debaixo da terra. Eu tenho medo. É algo difícil pra mim, mas tenho que seguir a vida”, desabafa.

Atualmente, Jayme é dono do restaurante “Cantinho do Vô”, herdado do seu pai e conhecido entre os turistas e moradores da região.

Preocupação constante 

Passados praticamente 18 anos do rompimento da barragem de Macacos, o receio dos habitantes em relação à segurança da comunidade ainda continua. De acordo com a Vale, 252 moradias do distrito estão na “zona de mancha”, ou seja, a área que pode ser atingida em caso de rompimento das barragens.

Este dado foi divulgado aos moradores por engenheiros da Vale, durante reunião ocorrida em novembro de 2018. Também nessa ocasião, de acordo com reportagem publicada pelo O Estado de São Paulo, a mineradora mostrou o plano de emergência de Brumadinho como exemplo a ser utilizado em caso de rompimento de outras barragens.

Segundo a ata da reunião, os técnicos exibiram um vídeo no qual 109 pessoas, sendo 89% delas moradoras do Córrego do Feijão, participaram de um treinamento que simulou rotas de fugas e medidas de auto-salvamento.

Entretanto, no dia do rompimento da barragem da Mina do Feijão, 25 de janeiro deste ano, as medidas se mostraram insuficientes, já que as sirenes não foram acionadas e centenas de pessoas da comunidade e funcionários da Vale não conseguiram escapar a tempo da tsnunami de lama.

Por isso, os moradores relatam desconfiança em relação às seis sirenes, instaladas no ano passado, como única medida de segurança apresentada até o momento pela Vale. “Na reunião do ano passado uma pessoa da Vale disse que a gente teria 15 segundos pra sair. Isso começou a circular muito pela região. Com 15 segundos você não consegue nem respirar. E, infelizmente, esse representante da Vale, hoje, tá soterrado lá em Brumadinho”, relata Jonathan Pereira de Souza, morador de 27 anos do bairro Capela.

A população de Macacos, distrito localizado a 70 quilômetros de Brumadinho, está realizando assembléias desde a semana passada para cobrar da Vale um Plano de Ação Emergencial, assim como informações sobre a real situação da barragem Capão da Serra.

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