Descomissionamento, superficialidade que agrada o mercado

Na última terça-feira (29), a Vale, mineradora protagonista do massacre que ocorreu em Brumadinho/MG, com até o momento 115 mortes confirmadas e 248 desaparecidos (segundo levantamento popular, esses números podem […]

Na última terça-feira (29), a Vale, mineradora protagonista do massacre que ocorreu em Brumadinho/MG, com até o momento 115 mortes confirmadas e 248 desaparecidos (segundo levantamento popular, esses números podem dobrar), afirmou que vai desativar as 19 barragens a montante, semelhantes as que romperam em Mariana e Brumadinho.

No entanto, essa promessa é fruto de uma queda abrupta do valor de mercado da Vale e surge como uma proposta de recuperar credibilidade internacional. Ao passo que a mineração continua a destruir vidas humanas e ambientais, andando a passos largos, assim como o uso das barragens.

A agência de classificação de risco Fitch rebaixou nesta segunda-feira (28) as notas de crédito da Vale de BBB+ para BBB-. A nota mais baixa do grupo de investimento. Dois escritórios de advocacia americanos entraram com ações coletivas contra a Vale por danos causados a investidores.

As ações da mineradora despencaram 24,5% na última segunda-feira (28) e a empresa perdeu 72 bilhões de reais em valor de mercado. Elas voltaram a subir na terça (29) com a prisão dos engenheiros. No entanto, é de entendimento comum que o laudo fraudado não foi feito sem ordens explícitas da própria mineradora, em busca do lucro a qualquer custo. Demonstrando como a bolsa pauta-se em superficiais resoluções, que não trazem respostas concretas ao caso. Tal qual o descomissionamento.

O chamado descomissionamento não extingue a lama de rejeitos, dá apenas outro destino a eles. A possível técnica a ser utilizada será o descomissionamento por aterro, por ser a mais barata. Nesse processo, a barragem não deixa de existir. Ela é aterrada com os rejeitos dentro e “reflorestada”, por cima de toda estrutura. O que continua a gerar riscos de deslizamento.

De toda forma, passados os 3 anos previstos para o descomissionamento, a Vale continuará a utilizar barragens, mas com alteamento pelos métodos de linha de “centro” e “a jusante”. O método “a montante” é o mais barato, e consiste no alteamento para aumentar a capacidade de armazenamento dessas estruturas, onde a barreira de contenção recebe camadas do próprio material do rejeito da mineração.

O método a jusante é mais caro, pois utiliza material adequado para a contenção. A de centro é o meio termo entre as duas, utilizando rejeitos e outros materiais. No entanto, ambas apresentam grande impacto ambiental para sua construção e continuam apresentando riscos iminentes de ruptura e catástrofes.

Independente do método usado o meio ambiente será impactado e vidas humanas continuarão em risco. Não existe mineração sustentável, e se tratando de empresas privadas os riscos tornam-se ainda mais iminentes. A Vale continuará a utilizar barragens, apenas afastará da opinião pública e de seus acionistas, o nome “a montante”, como se fosse o método em si o responsável por esse crime.

As milhares de vidas destruídas pela Vale é fruto de uma ganância corporativa, da busca incessante do lucro, de um Estado comprado, inexistente na defesa de garantias básicas de segurança e saúde de sua população. Toda essa mídia sobre desativar tais barragens surge para que o nome da Vale seja mais uma vez limpo e se torne apropriada aos investidores internacionais. Aqueles que lucram com a morte de milhares.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro