De sanfona e parceria também se faz a luta em Ipatinga
Companheirismo, acolhimento, amizade, festa e muita luta. Esse foi o clima na segunda cidade por onde passa a Marcha Lama No Rio Doce: 3 Anos de Injustiça. Os atingidos e […]
Publicado 08/11/2018
Companheirismo, acolhimento, amizade, festa e muita luta. Esse foi o clima na segunda cidade por onde passa a Marcha Lama No Rio Doce: 3 Anos de Injustiça. Os atingidos e atingidas pelo crime da Samarco/Vale/BHP iniciaram marcha em Mariana, no dia 04, com o Encontro de Mulheres e Crianças com mais de 300 pessoas, e chegaram hoje, dia 07, em Ipatinga, Vale do Aço.
Foto: Nilmar Lage, Mídia Ninja
A manhã foi de diálogo com a sociedade, com a realização de conversas e panfletagem da edição especial sobre o crime do jornal Brasil de Fato MG. Foram visitadas, feiras, casas e comércios do bairro Santa Rita e o centro da cidade. Pudemos perceber o acolhimento da população com o tema. Me emocionei quando uma senhora contou que havia saído de Cachoeira Escura depois da lama, porque não conseguia mais viver lá. Ela disse que é triste até hoje, relata Cássia, militante da FEAB e atingida de Colatina-ES.
A tarde foi de organização e descanso, e no início da noite os atingidos foram novamente acolhidos por um grupo de artistas e apoiadores na quadra poliesportiva do bairro Santa Rita. Estamos aqui para lutar pelas pessoas de toda essa bacia do Rio Doce, defender a vida é nosso objetivo. Onde a vida está sendo ameaçada ,nós vamos lutar por ela!, compromete-se Tião dos Santos.
Com mais de 70 participantes, a atividade foi animada pelo sanfoneiro Zé Roberto, além de rap, com Andressa, do Levante Popular da Juventude, e poesia com Jennifon. Lili, do SindUTE, define bem o clima de denúncia. Vamos levar para todas as pessoas que não foi acidente, foi crime e crime se paga, aponta. Camila, militante do MAB em Ipatinga, reforça a importância de se fazer essa denuncia para dentro do próprio município. Os moradores da cidade não reconhecem que Ipatinga é uma cidade atingida pelo crime da Samarco. Isso é resultado de um bloqueio feito pela grande mídia, e estamos aqui tentando mudar isso na resistência, declara.
Camila lembra ainda o Massacre de Ipatinga, que completa 55 anos e um mês neste dia 7 de novembro. Foi uma massacre de trabalhadores e trabalhadoras, também criminoso. Outro fato que indigna, e denunciamos até hoje, lamenta. Em sequencia, o artista Kadosh declamou uma poesia sobre o massacre e o crime da Samarco.
Jardel, coordenador do PT e médico veterinário, denuncia como o crime afeta também os animais silvestres, que não têm mais o rio como fonte de água, se compromete em acompanhar a Marcha, estar sempre ao lado dos atingidos. Municipais por aí. É legitimo e muito importante essa denuncia que o MAB sabe fazer com muita competência. Nós acompanhamos a luta no que podemos, sempre. Através dos órgãos governamentais e fazendo a denuncia nas câmaras. A Samarco não pode ficar ilesa, esses criminosos têm que pagar, temos que nos manter firmes na luta até que alguém seja punido, e não podem ser os trabalhadores, reforça.
A coragem e perseveranças das atingidas e atingidos foi motivo de orgulho para todos os presentes. Assumir o erro é a coisa mais difícil de se fazer, se eles não têm coragem para isso, nós temos coragem de luar até que eles assumam. Estamos com vocês, completa Zé Marcos, do Sindicato dos Comércios de Ipatinga.
Exemplo de coragem foi dado por Maria Rosa, de Belo Oriente, em Cachoeira Escura. Atingida pelo crime e militante do MAB, ela denuncia o desmando da renova nas ações com os atinidos. A Renova não reconhece as pessoa atingidas. Estão pagando indenização para calar a boca das pessoas. Muitos acham que o que recebem é beneficio social, mas não é. Nós não estamos pedindo beneficio social, estamos exigindo nossos direitos, afirma.
O auditório, repleto de mulheres atingidas, chamou a atenção de Jardel. Pra todo lado que tenho ido só tenho viso a mulherada assumir a luta pra valer mesmo. O que não quer dizer que os companheiro têm se colocado de lado, mas as mulheres estão assumindo o seu papel, e muitas vezes na nossa frente!, comemora.
E essa luta e união é o que segue. Temos boas notícias. O MAB veio pra cá, e com isso se fortaleceu, o MAB conseguiu crescer e aparecer, e com isso demos visibilidade à nossa luta. Os movimentos sociais são preponderantes na emancipação dos trabalhadores e isso é uma boa notícia. Temos a possibilidade de construir um projeto de nação que seja libertário, e que acabe com a exploração do meio ambiente e do ser humano, convoca Maura, do PSOL.
Ana, da CMP reforça . Nossa luta é árdua. Os movimentos terão que se unir nesse momento, a união é fundamental para a nossa luta. Não vamos arredar o pé. E a atingida Maria Rosa então conclue: O que nós precisamos mesmo é nos organizar e mobilizar. Até então a Renova está desmandando na nossa vida, mas quando usamos a força que temos a Renova não é nada.
Estiveram presentes também Camila Oliveira, do coletivo LGBT de Ipatinga, Padre Dominque, da Paróquia Cristo Redentor e Bella, do Coletivo de Mulheres Bissexuais e Lésbicas do Vale do Aço.
Foto: Comunicação MAB